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quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Um presidente pecador e o aborto

… o presidente despertava tanta animosidade entre os cristãos. Sua política a respeito do aborto e dos direitos homossexuais, particularmente, junto com os relatórios de seus próprios fracassos morais, tornava difícil para muitos cristãos levar a sério a profissão de fé dele. Um respeitado líder cristão havia me declarado categoricamente: "Bill Clinton não pode naturalmente ser sincero a respeito de sua fé e defender os pontos de vista que defende".

[…] Naquela manha, todos nós tínhamos estado no "Café da manhã com oração nacional" e ouvimos madre Teresa criticando ousadamente o presidente pela praga do aborto neste país. Clinton havia-se encontrado com ela particularmente depois do café e parecia ansioso por continuar a discussão conosco.

Meu artigo resultante dessa conversa, "A charada da fé de Bill Clinton", apresentava seus pontos de vista e também explorava a pergunta levantada pelo meu amigo. Poderia Bill Clinton ser sincero a respeito de sua fé, defendendo os pontos de vista que defende? Eu havia feito muita pesquisa, inclusive conversei com seus amigos e colegas de infância e a evidência parecia clara: a fé de Clinton não era uma postura assumida como expediente político, mas parte integrante do que ele era. Com exceção do período da faculdade, ele freqüentava a igreja fielmente, apoiou Billy Graham a vida toda e era ávido estudante da Bíblia. Quando perguntei que livros cristãos havia lido mais recentemente, ele mencionou títulos de Richard Mouw (presidente do Seminário Teológico Fuller) e Tony Campolo.

Na verdade, achei quase impossível entender os Clinton à parte de sua fé religiosa. Hillary Clinton, metodista desde criança, crê que fomos colocados no mundo para fazer o bem e servir aos outros. Bill Clinton, um batista do Sul, foi criado na tradição do reavivamento e de "ir à frente" para confessar os pecados. É claro que ele faz muita bagunça durante a semana — todo mundo não faz? — mas, aos domingos, vai à igreja, confessa seus pecados e começa tudo de novo.

Depois da entrevista escrevi o que pensava ser uma avaliação equilibrada do presidente Clinton e sua fé, dando espaço considerável à questão do aborto, na qual fiz um contraste entre sua posição indefinida e os absolutos morais de madre Teresa. Eu estava totalmente despreparado para a reação tempestuosa. Fico imaginando se meu carteiro vai recuperar-se do esforço violento de arrastar malas de cartas zangadas para a minha caixa do correio.

"Você diz que Clinton tem conhecimento bíblico", dizia um, "bem, o diabo também tem! Você foi enganado". Muitos signatários defendiam que os evangélicos não deveriam nunca se encontrar com o presidente. Seis traçavam paralelos com Adolf Hitler, que cinicamente usou pastores para os seus próprios propósitos. Outros nos compararam com a igreja amedrontada por Stalin. Outros lembraram-se de cenas bíblicas de confrontação: João Batista e Herodes, Elias e Acabe, Nata e Davi. Por que eu não tinha agido mais como um profeta, sacudindo o meu dedo diante do rosto do presidente?

Uma pessoa escreveu: "Se Philip Yancey visse uma criança que estivesse prestes a ser atropelada por um trem de carga, creio que ficaria confortavelmente fora do caminho e amorosamente pediria à criança que se mexesse, em vez de se esforçar gritando e empurrando a criança para fora do perigo".

Philip Yancey em Maravilhosa Graça

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