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sábado, 1 de janeiro de 2011

Os Comunistas (no poder)

Da multidão dos que creram, uma era a mente e um o coração. Ninguém considerava unicamente sua coisa alguma que possuísse, mas compartilhavam tudo o que tinham. Com grande poder os apóstolos continuavam a testemunhar da ressurreição do Senhor Jesus, e grandiosa graça estava sobre todos eles. Não havia pessoas necessitadas entre eles, pois os que possuíam terras ou casas as vendiam, traziam o dinheiro da venda e o colocavam aos pés dos apóstolos, que o distribuíam segundo a necessidade de cada um. - Atos 4:32-35

Embora o termo comunistas não se aplique de forma tecnicamente correta àquela comunidade, não seria absurdo pensar que estivesse infinita e anacronicamente bem mais próxima ao ideal comunista do que ao ideal do cristianismo. Nenhum absurdo seria portanto classificá-la assim, no sentido mais amplo do vocábulo: aqueles que tem tudo em comum.

Admito desavergonhadamente que se para mim existe algum versículo áureo na Bíblia seria este. Deveria ser este recitado, decorado, cantado e pintado com cores berrantes e bordado em neon nas fachadas das instituições, enfim colado bregamente nos carros como adesivo. O efeito evidentemente seria, como nos demais casos, atestar nossa própria incompetência, e instigar os ânimos de dois ou mais neófitos fanáticos para levá-lo ao pé da letra, como de fato, deveria ter sido sempre e ininterruptamente levado por todos nós.

A multidão de comunistas do primeiro século não era cristã, e se fosse, ainda não tinha recebido esse rótulo. Eram judeus.

Duas coisas entretanto eles não repartiam: a mente e o coração, pois possuíam todos somente uma e a mesma mente, um e o mesmo coração.

A primeira consequência lógica disso era que seus atos gritavam mais alto que suas palavras, as quais eram, por isso e ao contrário das nossas, recebidas com credibilidade: Só um Senhor vivo poderia presidir uma sociedade comunista viva, eficaz e real.

No mais, tudo era colocado na paulista, na roda, e era promiscuamente compartilhado por todos, sejam propriedades, grana, bens de produção ou de consumo, roupas, bichos ou livros.

Vale lembrar, não se trata (inicialmente) de um programa assistencial para salvar algumas famílias da miséria, ou para devolver a dignidade a outras. A transferência da propriedade e do direito de usufruto era radical e completa, tudo era nivelado ao status de bem comunitário. Todos eram nivelados ao status de proprietários de tudo.

Assim não havia necessitados entre eles.

Infelizmente tal paraíso, tal utopia, tal empolgação, tal despreendimento, tal pureza e pobreza de espírito duraria somente mais três versículos em toda história da igreja.

A impressão deixada por Lucas é que o Reino de Deus havia atingido seu ápice. O que assistiremos, agora, não só nas cenas do próximos 22 capítulos, mas nos 20 séculos seguintes, seria a decadente derrocada acompanhada de uma estranha e desesperada luta: A guerra do cordeiro que foi morto e reviveu. A constante agonia daqueles cidadãos dispersos, para voltarem novamente à sua Jerusalém, para surfarem novamente na crista da onda, para retornarem à sua amada ilha utópica, e viverem sob o único e subversivo senhorio de Jesus.

(Continua…)

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