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segunda-feira, 21 de março de 2011

Caio contra Gondim

Fiquei sabendo que Caio havia atacado novamente.

Depois vi o Gondim pedindo um tempo no Twitter, então não resisti e fui ver o que era (aqui).

É difícil manter-se fora dessas polêmicas e também é difícil (para mim) não entrar nelas - também sou passional.

Diz o Brabo que o insulto vertical é melhor maneira de se ficar famoso na Net. Bem da verdade o insulto sempre foi uma maneira de tentar ocupar o centro das atenções. Assis Chateubrian deu início à sua estranha e bem sucedida carreira assim. E não me engano – ao escrever isso tudo agora estou entrando pela mesma escorregadia ladeira. Por isso mesmo quero tentar ser o mais breve e cuidadoso possível.

O ponto central da crítica feita pelo ex-líder da Associação Evangélica Brasileira é a velha polêmica posição do Ricardo frente às catástrofes, que teve início com o Tsunami do sudoeste asiático que ceifou 234 mil vidas.

Tentemos a partir deste ponto refletir.

  1. É muito fácil afirmar que Deus é soberano e portanto permite e até causa tais catástrofes (para isso teremos base bíblica de sobra – não cai um pardal… os fios de nossas cabeças estão contados… etc.)
  2. É de igual maneira muito fácil afirmar que somos limitados em nosso conhecimento e, pararmos por aí, concluindo que não se pode especular frente a males tão assombrosos.
  3. Mais fácil ainda é jogarmos tudo isso na conta do pecado original. A humanidade está sofrendo as consequências de uma vida longe de seu criador.

Se assim a teologia evangélica (e católica) comum-, normal- e tradicionalmente aceita é tão simples, por que então complicar?

A negação desses pontos não denota uma atitude covarde frente ao poderio de Deus, que deve ser aceito e encarado com hombridade? (Seria esse o ataque de Fábio, expresso de forma civilizada).

A Bíblia nos fala que as coisas espirituais não podem ser compreendidas pela sabedoria desse mundo. E talvez aqui encontro a primeira brecha no tripé erguido acima (soberania – limitação humana frente aos desígnios divinos – pecado original), é que a lógica exposta acima é tão lógica e simples que qualquer pessoa desse mundo (daí sua origem na Grécia antiga) pode muito bem aceitar e compreender isso. Onde está então a espiritualidade disso tudo?

Essa lógica encontra sonoros ecos no famoso suspiro popular “Foi Deus que quis…”.

Antes que coragem frente a um suposto Deus “todo poderoso” ela é a mãe teológica de todas as resignações. E por isso precisa ser quebrada!

Daí é preciso muita atenção para ouvir o que está sendo proposto pelo pastor da Assembleia de Deus. Não é um acovardamento frente à soberania de Deus. Não. Pelo contrário é a ousadia de tocar em vacas sagradas do cristianismo para podermos chegar à verdade divina. É o não corrermos avidamente para respostas prontas, que podem ser enganosas.

Certamente essa postura trará suas consequentes oposições, afinal ninguém quer ser ultrapassado em sua suposta visão de vanguarda. E mais do que isso, outros, teriam que rever toda sua biblioteca e vida e partirem para um estilo de vida completamente diferente. Só para citar algumas poucas consequências. Obviamente também não é de hoje que parte da cristandade se preocupa só com questões relativas à “reta doutrina”…

Não sou nenhum expert mas sei que Jesus se revela em sofrimento e cruz. E justamente essa fraqueza (essa ausência de soberania) do Filho do homem não pode ser compreendida pelos não espirituais. Jesus também não veio trazer explicações verbais para os desígnios de Deus, mas Ele as materializou. E também foi o homem de Nazaré quem mostrou que aqueles que, por nossa ética, seriam os mais condenáveis pecadores, estavam agora livres de condenação, jogando assim para escanteio a doutrina do pecado original que seria formulada séculos depois?

Toda essa graça de Jesus é muito incompreensível para os sábios deste século. Frente a uma ação tão avassaladora da Natureza eles logo reconhecem a mão de Deus.

O que Rubem Alves, Gondim e tantos outros tem tentado mostrar é que ela (a mão soberana de Deus) continua em outro lugar: hora curando enfermos, hora abençoando crianças, hora açoitando religiosos mercenários, hora abraçando um amigo, hora sangrando num madeiro.

Na verdade os evangelhos não nos revelam nada sobre Deus promovendo tragédias.

A fúria de Caio continua tragicamente sintomática.

11 comentários:

O Tempo Passa disse...

Essa parece ser o debate do momento, não? Me dá vontade de bocejar... Se fosse um debate do tipo "vamos ver o quanto alargamos nossa visão", eu aplaudiria e até tentaria colaborar. Mas é a velha postura "eu tô certo, então vc tá errado e tá ferrado!". Cansei. Acho que há um falso dilema "soberania de Deus X Liberdade humana. Devíamos nos aproximar do assunto humildemente, como quem NÃO SABE NADA. Mas não! Uns tentam aniquilar os outros e produz-se muita fumaça, mas nenhuma luz...

Andrea disse...

Cada vez que presencio esse tipo de "disputa", ainda mais envolvendo homens já de uma certa idade, que já deviam ter aprendido, pelo menos, a discordar uns dos outros sem se desrespeitar mutuamente, o que me vem na cabeça, é:

Vaidade, é tudo vaidade...

Djalmir disse...

É isso que acontece quando o sonho acaba. É muito triste.

Lou Mello disse...

Não sei, não. O Gondim usou pressupostos da teologia relacional, misturado com teismo aberto, mais uma vez. Nesse caso, Deus teria construído o mundo, entregue as chaves aos humanos e picado a mula, deixando-nos ao Satanás dará, se bem que eles não crêem em demônios. Uma coisa é a humanidade sentir-se desamparada e isso foi explicado por Kierkegaard no século 18, ou seja, a ignorância (um espaço inexplicável, de dúvida total) gera culpa e a culpa causa a angústia, outra é afirmar que não há Deus. O fato de não vê-lo ou não entendê-lo não significa que Êle não esteja presente ou não exista. Nossa religião se dá pela fé, ou seja, por algo que não vemos, mas cremos.
Muito pior, se não me engano, é que essa atitude seja assumida por quem menos presumíssemos, ou seja, por pastores e padres, ainda mais, quando o cheiro de sangue e enxofre ainda é muito forte.
Agora, pessoalmente, continuo com minha posição nada original, a raiz desses males é o dinheiro, se não me engano.

Thiago Meirelles disse...

Tenho que adimitir que não costumo me apegar a terminologias que teólogos inventam pra determinar alguma linha de pensamento. Ajo "juridicamente": analiso o caso concreto. Se é teísmo aberto, fechado, semi-aberto não me importa. Sigo aquilo que me parece coerente. E, como alguém já disse, entre pecar pela justiça e pela misericórdia, peco pela misericórdia. Prossigo aquilo que faz de mim mais humano e amável. Nesse ponto gosto do que Gondim diz.

Quanto a Caio, independente de verdade ditas ou não, sua teologia deveria tê-lo ensinado auto-controle e respeito. Não darei um view sequer em seu vídeo. É assim que se trata uma criança mal criada.

ROGÉRIO B. FERREIRA disse...

"Devíamos nos aproximar do assunto humildemente, como quem NÃO SABE NADA."

Rubinho esta tem sido, até onde eu sei, a posição do pastor da Betesda.

O debate em sua essência é antigo... nada do momento.

A questão do momento é a agressão gratuita de Caio Fábio - que também já vai se tornando rotineira.

Junto a eles há sempre a "turma da reta doutrina" que não suportam a postura de fé do timpo "não sei", ou "duvido'. Estes geralmente são agredidos e aqueles agressores.

Abraços,

Andrea disse...

Desta vez, o Caio Fábio conseguiu até ser elogiado pelos hipócritas da ala que sempre fala mal dele. Esse tipo de coisa, é uma das mais nojentas que ocorrem no meio evangélico: a pessoa não presta e eu passo a vida criticando-a, até que ela ataque alguém que eu também estou atacando. Aí sou capaz, no auge da hipocrisia, de parabenizar alguém que, na verdade, desprezo a maior parte do tempo, e também me despreza. Vergonha.

Diógenes disse...

É curioso que Caio Fábio quando descreve seu alvo da vez (geralmente pessoas) ele revela sempre os mesmos traços em todas elas. Aventureiros, aprendizes, moleques que sempre desejaram segui-lo por veneração ou até mesmo inveja,etc. Que como bom mestre, sempre acolheu a todos como filhos na fé. Ensinou a eles tudo o que sabem, deixava-os carregar sua bíblia... Em seguida mostra-nos todos como verdadeiros "judas", que o traíram e o entregaram para o sacrifício. "Complexo de messias mal ressucitado". Cegam-se as luzes dos holofotes. Todos estes sem exceção ao abrirem a porta de suas geladeira de madrugada, já vão logo emitindo suas teologias achando que já estão filmando. Quanto aos adjetivos por ele usados ao se referir ao Gondim, o Caio deve ter se convertido a tal da "preferencia nacional"...

Anônimo disse...

Por favor, só um lembrete: quando vcs se referirem ao que o outro falou contra o Gondim, não digam que eles se atacam, porque o Gondim, somente diz o que pensa em textos, e nunca se arvorou de dono da verdade,e nunca atacou ninguém... ele prega, ensina, escreve o que vai descobrindo ao longo do tempo...sem em nenhum momento mencionar pessoas ou atacá-las.Por isto, não digam que há briga, porque os ataques vem só de um lado, e o Gondim prefere calar e continuar escrevendo, pregando e ensinando o que vai descobrindo, e não tem dinheiro envolvido ok?

Dra. Costa disse...

Ao Gondim: "[...] As muitas letras te fazem delirar".
Ao Caio: "[...] tenho, porém, contra ti que deixaste o teu primeiro amor. Lembra-te, pois, de onde caíste, e arrepende-te, e pratica as primeiras obras [...]".
A nós: Discussões sobre "verdades" são sempre infecundas. A verdade está nEle e É Ele. Nossa parte é crer. Perguntas são inevitáveis quando chega a dor. Também sofro-as; também busco respostas, embora intimamente saiba que deveria me calar e deixar apenas Deus ser Deus.
Gostei muito do blog. Amplexo.

ROGÉRIO B. FERREIRA disse...

O delírio, aquele delírio das muitas letras, aquele mesmo delírio do qual Paulo foi acusado, como eu desejo também ele...