Falar sobre cura divina é um tarefa complicada.
Difícil porque teoricamente Deus teria poder para curar, e cura.
Embora, como um deficiente físico já bem salientou sabia e corajosamente, “os evangelhos esfregam curas e milagres em nossas caras como se fossem filet mignons frente a cães famintos”, o milagre não poderia mesmo ocorrer corriqueiramente, se não, por definição, deixaria de ser milagre. Seria uma simples equação de causa e efeito: oração produz cura, pedi e dar-se-vos-á, proclame e acontecerá, tenha fé e receba o milagre!
Não se pode roubar o consolo e a esperança que a crença no sobrenatural suscita, ainda que essa esperança seja tantas vezes frustrada. Existem casos não tão complicados onde essa fé fortalece o paciente ou família para superar a momentânea crise, que de forma natural seria ou será vencida.
Assim não é raro quando se atribui a Deus ou a seus anjos a cura de enfermidades de somenos importância como úlcera, dor nas costas ou nas pernas, resfriado ou enxaqueca. Errado porém seria usar a máquina do marketing religioso para propagar isso como se fosse coisa espetacular.
Como alguém já disse, mandem por favor esses charlatões da fé demonstrarem seus super-poderes em um hospital infantil do câncer.
Acho que minha empolgação pela cura divina chegou ao final, quando fui trabalhar de faxineiro em um manicômio londrino. Lá, a realidade escarrou em minha cara a dureza da falta de respostas simples para questões complicadas da vida.
Lembro-me de um pastor que “curou” um paciente aidético e foi a sensação do bairro. Até que o rapaz, semanas depois, veio a falecer.
Duas explicações “convincentes” chegaram:
1. O atestado de óbito, ou laudo médico, era claro: o rapaz não tinha morrido de AIDS, então a AIDS havia sido curada, a doença que o matara era outra…
2. A Bíblia também era clara em seu veredicto, “agora vá e não peques mais para que não te suceda coisa pior”. Mandamento que o rapaz obviamente não conseguiu seguir, então coisa pior aconteceu…
A fama do pastor ficou só um pouquinho arranhada. Depois disso acho que ele só conseguiu curar um paciente de câncer, que passara por uma longa quimioterapia na Europa.
Não quero aqui desencorajar a oração ou colocar em xeque toda e qualquer cura experimentada, grande ou pequena.
Outro fato que me ocorre foi um amigo que viu um cego do outro lado da calçada e se empolgou e já queria ir lá orar por ele. Esse amigo, um missionário que sonhava ter uma igreja do tamanho da do Paul Yonggi Cho…
A realidade e a prática mostram que há algo de sinistro por trás das motivações daqueles que propagam a cura divina.
Não é de se espantar que muitos não acreditem nela.
Um comentário:
Ó eu aqui traveis! Quem realiza milagres é Deus, não os homens. Os apóstolos não iam atrás de milagres, os milagres é que iam ao encontro deles, e eles apenas reagiam naturalmente às situações que se apresentavam a eles (ou, "que Deus apresentava-lhes").
É isso aí.
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