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domingo, 27 de maio de 2012

Amor pelas coisas

Em algum lugar nos ensinaram que não devíamos amar as coisas. Devemos sim amar as pessoas, e usarmos as coisas; e nunca inverter essa relação.

São Francisco foi quem primeiro entendeu que as coisas da natureza pertencem também à nossa família: o irmão sol, a irmã lua, o irmão lobo, o irmão pássaro e assim por diante, todos na mesma fraternidade.

Mas o que dizermos das coisas artificiais? Qual sentimento emprestamos ao artesanal? Àquela toalha bordada, ao pião feito com canivete, àquela pipa colorida, o que sentiremos pela travessa de comida bem temperada e ornamentada, pelo bolo ou pelo quadro pintado com esmero?

Qual criança nunca dormiu abraçada àquele presentinho que ganhara?

Nos apaixonamos pelo objeto que nos foi dado por alguém querido. Nos apegamos a um relógio, a uma câmera fotográfica, a um jogo de talheres, a um CD, a um livro, a uma jóia.

Nos rendemos às coisas que sonhamos um dia ter e, após vários planos, alcançamos a soma necessária: seja uma casa, um carro, um celular ou uma peça de roupa.

Nos custa desfazermos daquilo que herdamos de entes queridos, ainda que não sejam coisas de algum valor mercadológico, o canivete do avô, uma velha máquina de escrever do tio, uma coleção de moedas do pai ou uma caneta nanquim da mãe.

Amamos nossas coisas… Quem poderia atirar a primeira pedra?

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