É comum no mundo religioso a condenação indiscriminada de tudo o que é esteticamente agradável. Nas experiências do espírito a estética frequentemente concorre com a ética e vice versa.
Ao encarar a Serpente, Eva via ali apenas um animal inofensivo, astuto, mas sem nenhum veneno. A mulher, em sua ingenuidade, não poderia enxergar o Satanás por traz do bicho. Assim, Eva atentava inocentemente às palavras do Diabo sem nenhuma chance de enxergar algum mal.
Naquela arena degradeavam-se duas vozes: a divina que queria evitar o mal, a saber a morte de Eva, e a satânica querendo o contrário. A voz divina, imperativa, “não coma”; a satânica, sugestiva, “não coma nada? Morrerão? Mentira…”
Ambas vozes amorais, aos ouvidos ingênuos de Eva, que movendo-se apenas no plano estético, não poderia medir as intenções morais ou imorais de Deus e do Diabo, nem as consequências éticas do ato que estava prestes a cometer.
O fato é que o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal possuía predicados estéticos inegavelmente sedutores. E após a fala da Serpente todos os efeitos colaterais daquele fruto estavam postos em xeque.
Ao dar a primeira mordida, Eva em um mesmo e só momento adentra o mundo da moral e se torna protagonista imoral de sua própria história. Se o peso da primeira experiência já era insuportável, o da segunda era inadmissível.
Eva passou os interesses estéticos na frente dos éticos. Agora ela sabia, isso era mal.
Eva dera ouvidos ao Diabo. Agora ela sabia, isso era mal.
Eva desobedecera a Deus. Agora ela sabia, isso era mal.
Eva se via pela primeira vez nua, miseravelmente nua.
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