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terça-feira, 20 de agosto de 2013

A visão

Certo pedreiro, homem justo, cidadão respeitado em sua comunidade e dedicado pai de família despediu-se da esposa e filho, e saiu cedo para seu costumeiro trabalho.

Chegando à obra, começou sua rotineira tarefa, a qual já exercia há anos.

Passando por ali o novo mestre de obras lhe perguntou:

- O que você está fazendo, seu João?

- Estou assentando tijolos – respondeu ele com um sorriso suado.

- Não, seu João. Não fale assim. Você está construindo uma parede, homem! O mestre foi-se e João prosseguiu seu trabalho.

Aproximou-se então o engenheiro:

- O que o senhor está fazendo?

- Estou assentando tijolos – respondeu ele com o mesmo sorriso.

- Desculpe-me corrigi-lo, mas o senhor está fazendo bem mais do que isso. O senhor está a construir um cômodo. E o engenheiro seguiu seu caminho.

Não muito tempo depois foi o arquiteto que aproximou-se:

- Diga-me, amigo, o que o senhor está fazendo aí?

- Estou assentando tijolos, senhor – respondeu ele com a mesma irredutível expressão facial.

- Ninguém te contou? Disse o arquiteto. Você deveria se orgulhar. Aqui o senhor está construindo uma catedral! O arquiteto se foi e nosso pedreiro prosseguiu sua tarefa.

Naquele mesmo dia aproximaram-se o padre, o bispo, vereadores, secretários e o prefeito, cada um a seu modo questionando seu João, e cada um dando sua interpretação da tarefa: hora “construindo a casa de Deus”, hora “construindo nossa cidade”, hora “construindo o progresso ou a paz de espírito” e etc. A resposta do trabalhador, contudo, foi sempre a mesma.

Terminado o dia de trabalho, já tarde, devido a horas extras, João lavou-se e seguiu para sua família.

Sua mulher e filhos lhe receberam com abraços e beijos.

- Como foi seu dia, querido? O que você fez hoje?

Ele respondeu com um largo sorriso cansado. - Assentei tijolos, como sempre.

- Papai você me conta uma historinha?

- Claro. Deixa seu pai primeiro comer essa deliciosa janta que sua mãe preparou. Enquanto isso você escolhe um livrinho e me espera em sua cama, que eu já chego.

***
Os israelitas diziam que tudo o que chegasse em nossas mãos para ser feito, deveríamos fazer com todas nossas forças, visto que na sepultura, para onde todos vamos, não mais haveria opção para fazermos algo. Os primeiros cristãos, todos de tradição judaica, tomaram essa mesma idéia de diligência e a entenderam à luz da fórmula “devemos fazer tudo de bom grado, como se fosse para o Cristo, o Senhor de todos”.

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