Sim, digo também dessas coisas pequenas.
Essas que nos assombram, embora tão minúsculas.
Não contarei das pétalas amarelas que surgem unificadas no início da primavera, que se agrupam às rosadas e às brancas e vermelhas e às lilases. E que de tão agrupadas chegam a parecer grandes. Mas não é o tamanho ou a vivacidade de suas cores que nos deixam boquiabertos. É a audácia com que elas nos desprezam ou, pelo contrário, nos observam.
Elas, que passam em poucos dias, que hoje estão no topo das árvores e amanhã estão ressequidas pelo chão. Que ontem se gloriavam de seu brilho e amanhã estarão desbotadas sendo jogadas pelo vento misturadas à poeira do chão.
Sim, as pequenas pétalas, afrontam nosso corre corre. Desdenham de nossa tecnologia, de nossas vias e veículos. Riem de nossa ânsia. De nosso mercado. De nossos guardas roupas. De nossos shows fashion.
E quando o inverno chega e pensamos que estamos delas vingados. Quando nos aquietamos no frio da neve e do gelo. Quando pensamos que nossa identidade finalmente achou seu lugar na natureza. Não demora tanto e de novo lá estão elas. Com a mesma exuberância, como se nada tivesse lhes acontecido.
Para que que eu iria querer contar essas coisas? Para quem que eu iria contar essas bobagens?
Talvez para meus amigos, os esquisitos, para que se lembrem de levar a sério as coisas lúdicas da vida; e também possam rir das sérias.
Mas caso sejam mesmo tão esquisitos como eu, não precisarão ser lembrados disso. Das pétalas e seu desdém. Então também não contarei, nem pra eles, e nem pra ninguém.
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