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domingo, 17 de junho de 2018

Perdoem-me por ser homem, branco, rico, hetero, cristão e evangélico

Devo meu pedido de desculpas às mulheres.

Não me considero um machista, nunca fui, mas vivemos numa sociedade assim.

Me alegro que um homem, o Filho Unigênito de Deus deu certa primazia às mulheres quando, após sua ressureição, apareceu primeiramente a uma mulher, Maria Madalena. Jesus sempre tratou as mulheres de igual para igual, com dignidade. Não só isso. Jesus não surgiu do nada. Para se fazer homem, o próprio Deus, também precisou nascer de uma mulher. Que por ser um processo natural, e tão óbvio, às vezes deixamos passar desapercebida esta importância. Mas não só isso, Deus, que se expressa (ou é percebido) na figura paterna - portanto masculina - é espírito, o Espírito Santo, e portanto desprovido de sexualidade, de gênero. Deus, a Fonte das fontes e portanto a origem do masculino e do feminino, se dá o direito de também manter-se neutro. Ele não é macho, nem fêmea. Ele simplesmente é.

Por que então nós homens deveríamos pensar sermos algo mais? Se por acaso assim o fiz, peço publicamente minhas desculpas. Se desfruto de vantagens e privilégios, por viver em uma sociedade machista que me trata diferencialmente melhor simplesmente pelo fato de ser homem, peço publicamente desculpas. Também faço parte desse jogo, o qual deve ser mudado urgentemente.

Assim também peço minhas desculpas aos negros – aos mulatos, aos índios e todos mais.

Não me considero racista, nunca fui. Mas vivemos numa sociedade marcada pelo preconceito.

O Messias, enviado por Deus ao mundo, o Escolhido, foi um judeu. Viveu tanto a discriminação, num país dominado por um império estrangeiro, como presenciou a discriminação exercida por seus compatriotas. Mas sua atitude esteve acima de tudo isso. Assim, Ele se posicionou ativamente contra os preconceitos. Conversou com samaritanos. Comeu com pessoas tidas por comuns, pois para Ele “não se deve chamar comum a quem Deus santifica” e “Deus não faz acepção de pessoas”. Ele veio como Salvador do mundo, não importando a cor da pele ou origem. Para Ele o que vale é ser nova criação.

Se somos todos irmãos, por que desprezarmos os diferentes? Não deveríamos nos alegrar na diversidade de culturas, de formas, na beleza da variedade humana? Mas se por alguma razão consciente ou inconsciente tratei meu semelhante com desdém por causa da cor de sua pele, ou sua origem, peço então perdão publicamente.

Peço desculpas aos pobres.

Sempre procurei estender as mãos aos mais necessitados. Até mesmo porque já me encontrei várias vezes nessa condição. Mas se em momentos de fartura, por acaso me endureci, peço perdão.

A condição financeira talvez seja o fator de maior segregação na sociedade. Quem viaja de avião vê que até os ricos são separados dos mais ricos ainda. E nas favelas vemos também que os mais pobres também se distanciam dos mais miseráveis... O mundo valoriza aqueles que possuem valores monetários. Os interesses são voltados para aquilo que “fala mais alto”, os bens materiais, as riquezas.

Mas aqui também tenho motivo de sobra para me alegrar em minha crença, pois o Filho do Homem nasceu pobre e viveu com gente humilde. Não foi com os reis, em palácios, no conforto, que transitou. Poderíamos portanto deduzir, equivocadamente, que Ele não recebia os ricos. Ledo engano... Ele também comeu com ricos, pois não desprezou ninguém. Sua sepultura foi com os ricos. Para Ele ricos ou pobres eram simplesmente pessoas, carentes da glória de Deus.

Se o mundo em que vivemos é assim, também devo pedir perdão se discriminei alguém por sua condição financeira. Se tratei diferenciado aquele que se vestia pior (ou melhor). Se me desviei do necessitado. Me envergonho e peço perdão, publicamente. Quero enxergar no ser humano sua dignidade intrínseca, por refletir invariavelmente a imagem do Criador.

Peço minhas desculpas aos homossexuais.

Não sou homofóbico. Não tenho medo ou ódio dos gays. Mas sei que nossa sociedade tende a ser assim.

A orientação ou desorientação sexual de alguém sempre foi vista na sociedade como tema picante. Os puritanos apontam o dedo para os devassos, e estes para aqueles. Os que se acham mais castos pegam em pedras para atirá-las nos menos castos. A sexualidade humana e a libido são forças naturais e biológicas que movem a psique dos indivíduos, de formas, muitas vezes, determinantes e incontroláveis, a ponto das pessoas até mesmo perderem a total consciência dos motivos mais básicos e primários de suas mais simples ações.

Jesus de Nazaré não viveu à margem das questões sexuais humanas. A Bíblia nos fala que Ele em tudo foi tentado. Todavia, diferentemente de nós, nunca pecou. E aqui também na fé cristã encontramos motivos de orgulho. Pois o Cristo para isso mesmo veio, para os pecadores, para salvar o que se havia perdido. Ele veio para redimir o mundo e não para condená-lo. Poderíamos aqui também pensar que por isso, Ele foi condescendente com os devassos e rigoroso com os hipócritas. Novamente nos enganaríamos. Em sua famosa frase “quem não tem pecado, atire a primeira pedra” Ele nos coloca todos no mesmo nível. E naquele contexto para a mulher pega em fragrante no pecado sexual, logo em seguida diz: “nem eu te condeno, vá e não peques mais”.

Mas o mundo é ávido em condenar. É inclemente em executar juízo. Especialmente contra aqueles que se desviam da moral, da ética, predeterminada, seja numa direção ou noutra.

Se por acaso agi assim e tratei um homossexual, ou quem quer que seja, com espírito condenatório e não com graça e misericórdia, peço perdão.

Peço perdão a pessoas de outras crenças.

Se minha fé me oferece tantos motivos de alegria, por que então me desculpar por ser cristão? Por isso mesmo, pois sendo assim tão elevada, também a religião pode se tornar pedra de tropeço. E quantas vezes não o é? A religião separa os povos, os continentes. E não raras vezes as famílias, os indivíduos.

Mas com Cristo não foi assim. Sendo o filho de Deus, hebreu, criado no judaísmo, Jesus de Nazaré esteve aberto aos samaritanos e aos gentios que possuíam outra espiritualidade. Na verdade Ele apresentou aos próprios judeus um novo paradigma de fé, sem com isso desprezar a fé mosaica. Não poucas vezes Jesus se admirou da fé de indivíduos que não pertenciam à maioria religiosa da época ou da região.

Se por acaso como cristão evangélico desdenhei de pessoas de fé diferente da minha, peço perdão.

Enfim, perdoem-me se pelo simples fato de eu ser homem, branco, rico, hetero e cristão evangélico, tratei você, que não é assim, com preconceito, com superioridade, desrespeito, desamor...

Talvez um dia descobriremos todos juntos, que pessoas diferentes da gente, não são nada além do que simplesmente pessoas, como a gente.

Um comentário:

Confiar em Deus disse...

Excelente texto, bem estruturado e coerente, parabéns.