Talvez seja esse o principal e grande valor das obras de Schaeffer, nos incentivar a não fugir do mundo, mas penetrá-lo com os olhos da fé. E assim fui ao cinema com um amigo costariquenho ver Ensaio sobre a cegueira.
A história anterior ao filme, que é minha, diz respeito a assistir a um filme de um diretor brasileiro de sucesso em um país estrangeiro. Em uma jogada de Marketing o filme foi traduzido aqui como “Cidade dos Cegos” fazendo assim uma ligação a outro sucesso do cineasta, Fernando Meireles, “Cidade de Deus”.
A cegueira não é algo totalmente alheio ao meu mundo graças à Dona Aurora. Ela era uma assistida SSVP – Sociedade São Vicente de Paula, da qual fui membro na minha infância. Dona Aurora era uma cega do bairro, que tive o prazer de assisti-la por um longo tempo e conviver com seu cotidiano. Algumas vezes a acompanhava levando-a e buscando-a para as missas dominicais.
Um terceiro fato curioso, anterior ao filme, foi a chegada inesperada de uma mulher na sala. Eu e o Rodolfo esperávamos o filme começar e ela chegou para procurar um anel perdido. Naquele chão escuro do cinema ficamos a tentar, como cegos, achar o bendito anel. Enfim alguém apareceu com uma mini lanterna e ela encontrou seu anel. Depois o filme começou.
Já sabia que Saramago é ateu. E graças às meditações sobre natureza e graça, fornecida por Francis Schaeffer, já estava pronto para apreciar aquela obra com mais cautela.
Gostei do filme e recomendo! Há cenas que me chocaram. Que quase me tiraram do cinema pelo desconforto. Mas cada um tem o seu próprio grau de sensibilidade e tolerância. Há nudez não artística que Pedro Cardoso certamente julgaria desnecessária. Há, porém, nudez artística.
Como os outros dois filmes de sucesso de Meireles, esse é um filme que denuncia a maldade humana, e não economiza técnica cinematográfica para isso. As cores do filme sempre são meio que desbotadas, pálidas e mortas. Como nos outros filmes, ele mostra que mesmo assim há esperança e o bem de alguma forma vence, apesar dos estragos feitos pelo mal.
De alguma forma, porém, o filme torna-se belo, graças a duas ou três cenas emocionantes que resgatam todo o drama do enredo: a beleza da música para o cego, o sabor da chuva e outras que não contarei para não estragar a emoção de quem ainda verá o filme.
A cegueira é uma ótima figura para ilustrar a queda do homem e no filme ela funciona como um catalisador da maldade, para mostrar a verdadeira face da humanidade caída. Não é à toa que o Evangelho nos presenteia algumas vezes com Jesus tratando deste assunto e em outros com seu poder para curar cegos.
A questão da fome e da distribuição de alimentos aflora no filme. Mas também questões religiosas e de fé.
No filme há a mulher do médico, a única que enxerga e carrega a carga dos cegos. Não seria essa a situação dos cristãos ou da igreja? Porém aquela mulher (segundo Saramago) está carregada do seu ceticismo. Enquanto que a mulher do primeiro cego, que é também cega, mantém a sua fé.
“Só Deus nos vê, disse a mulher do primeiro cego, que, apesar dos desenganos e das contrariedades, mantém firme a crença de que Deus não é cego, ao que a mulher do médico respondeu: Nem mesmo ele. O céu está tapado, só eu posso ver-vos, Estou feia.”
Um comentário:
Olá Felipe, td bem? Espero que sim. O encanto para fugir da realidade, encontrei-o na escrita... De uma forma particular, hoje através de "O Anonimato".
Quantos cegos existem com dor e quantos os que vêem de forma anodinia???
Doce bj de encanto,
Sandra Ferreira,
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