Há algumas frutas que são apreciadas pela sua doçura. A uva, por exemplo, se for muito azeda não dá para comer. Outras, porém têm a acidez como característica marcante. O limão em especial, quanto mais azedo melhor. Existe uma variedade de limão conhecida como limão capeta, ou rosa, que é bem azedo (exteriormente até parece uma doce mexerica, mas é um limão). Obviamente o limão não é consumido puro. Serve para limonada ou temperar algumas receitas.
Quando escrevo minhas críticas ou tento corrigir certos posicionamentos nocivos que vejo espalhados por aí, minha intenção não é de forma alguma denegrir a imagem de alguém ou desprezar tudo que foi dito por esse alguém, mas sim trazer um contra peso, jogar um pouco com a dialética e mostrar que toda moeda tem seus dois lados.
Digo isso agora, pois sei que nesta altura do campeonato corro o sério risco de ser mal interpretado por um leitor o outro desavisado que ainda não se acostumou ao meu estilo.
Por exemplo, quando escrevi criticando a teoria “Rick Warriana”, não quis com isso denegrir nosso irmão americano, nem muito menos desconsiderar as coisas importantes que ele levantou. Todavia ao perceber a euforia que se fez em torno dele e suas técnicas, me senti no dever de mostrar que a coisa estava ficando açucarada de mais, americanizada de mais, pragmática de mais.
A mesma coisa vale para minha crítica à onda que vem tomando conta das igrejas evangélicas brasileiras com relação à autoridade e submissão, onde achei um expoente modelo aqui na coluna do leitor. Veja bem, autoridade e submissão são valores bonitos, todavia como a coisa vem descambando para o abuso de poder, abuso de autoridade e abuso espiritual, tenho que fazer uso do limão para que a limonada fique saborosa e saudável. Caso contrário ela ficará aguada e/ou açucarada de mais e sem gosto.
Concordo que muitas pessoas lêem Rick Warren e conseguem filtrar, mas não todos. Concordo que muitos lêem sobre a importância da autoridade e conseguem lidar com isso, mas infelizmente não a maioria.
Creio que há muito a ser dito (e principalmente ouvido) sobre prática, sobre planos, propósitos, lideranças e autoridade espiritual. Mas a ênfase necessária no contexto brasileiro (e mundo moderno) não é essa. O que precisa ser primordialmente dito e ouvido hoje é sobre menos ativismo, mais espontaneidade, mais relacionamentos de qualidade, menos agenda, menos serviço forçado, menos estrutura e mais vida. Menos obediência e mais rebeldia.
Sei que essa última frase é ácida de mais e poucos podem suportá-la, mas é exatamente isso que Deus requer de nós nesses dias. Obviamente, isso não quer dizer rebelarmo-nos contra Ele! De forma alguma. Mas rebele-se contra as forças que te escravizam, contra aquelas que tentam te impedir de ser você mesmo. Desobedeça as ordens daqueles que querem te fazer andar segundo o curso deste mundo. Quebre as regras religiosas que outros (ou você mesmo) te impuseram, as quais têm te afastado do Criador ao invés de te aproximar dele. O problema é que hoje as Martas insistem em querer mandar nas Marias. As Martas têm que entender que as Marias escolheram a melhor parte e não lhes será tirada!
Lembre-se que o pacto que você um dia se submeteu foi selado com sangue na Cruz no Gólgota. Ele é o seu Senhor, ninguém mais. E o seu espírito produzirá em você o domínio “próprio”, não o alheio. Você não precisa de um “paizão”, pois você já tem um Pai no céu, não precisa viver sob a tutela de um líder espiritual, você tem a unção do espírito.
Creio que agindo assim você será uma pessoa respeitada pelos seus líderes e liderados, alguém maduro pronto para ser usado pelo seu Senhor, mas principalmente pronto para desenvolver uma relacionamento sustentável com seu Amigo Eterno, que te ama e estima muito.
Extraído da Ultimato palavra do leitor
Figura: Alessandro Allori (1535 - 1607)
2 comentários:
Roger,
Esta sua reflexão está um primor! Precisa, pertinente e coerente com os ensinamentos de Jesus.
Este conflito entre o humano e o eterno caminha com a humanidade e foi objeto permanente dos ensinamentos de Jesus no seu diálogo com as multidões, com os fariseus eos doutores da lei. Ainda hoje os dirigentes religiosos continuam tendo a mesma dificuldade, não sabendo discernir entre liberdade, misericórdia, obediência e poder. Daí a pertinência e importância desta sua reflexão. Meus parabéns!
Obrigado, caro amigo,
assim com tantos adijetivos, e como bom mineiro que sou, fico até desconfiado. rsrs
Um forte abraço,
Roger
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