O zelador saiu a parlamentar, e desacataram-no. A rua era pública, a igreja a casa de Deus. Na próxima noite já estavam ali novamente e logo antes do raiar do dia já desocupavam a estalagem, não faziam nada de mais. Os crentes tinham que ter caridade ou não passavam de hipócritas.
Caridade era coisa para espíritas ou católicos e ouvindo-se tratar de hipócritas, no santo dos santos, por trás da cortina, os crentes se indignaram. O telefone chamou a Rádio Patrulha, que foi rápida, mas os maltrapilhos ainda mais: ao chegar o carro, o zelador estava falando sozinho.
No dia seguinte, não houve hospedagem grátis, mas já na outra noite, meio cautelosos, eles reapareceram. A esse tempo a rua se dividira. Havia elementos solidários com os evangélicos, e outros que defendiam os descamisados; estes argumentavam que aquela gente era sofrida e precisava do apoio comunitário e não mais peso para carregar. Preferível à graduação dos casais suspeitos, que antes envergonhavam a rua.
Mas a Igreja da Graça tinha membros metódicos e burgueses, aos quais aquela miséria torturava; tinha também gente pobre e trabalhadora, que preferiam fugir da indigência a encará-la logo pelo domingo cedo. Por que os vagabundos não voltavam de onde vieram e iam pegar duro na enxada?
Continua…
Leia:
A Escadaria da Graça (1)A Escadaria da Graça (2)
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