Escrito por Alice em 6/26/2009
Somos todos expectadores.
Expectadores da vida.
Todos os dias nos sentamos confortavelmente e assistimos a mais um ato.
Um ato de amor ou de ódio, um ato de rancor ou de saudade, um ato de alegria ou vaidade, de tolice ou burrice, ...mais um ato, onde nossos próprios atos nos comprometem e nos denominam.
Abrem-se as cortinas e todos entramos em cena.
Apresentamos nossas melhores falas e usamos nossos mais poderosos olhares, somos tão fiéis aos nossos papéis e sabemos tão bem como interpretá-los que é impossível competirmos entre nós. Não haveria prêmios suficientes para todos.
Mas com o passar dos anos e dos atos apresentados, venho descobrindo que toda nossa interpretação é cada vez mais frágil e solitária, e que nunca seremos o sucesso que queremos ser.
Nós somos a platéia.
Nós somos os expectadores.
Nós nos aplaudimos ou nos vaiamos.
Nós nos emocionamos ou nos detestamos.
Todos os outros para quem pensamos mostrar algo, também estão a interpretar para si próprios.
É mesmo uma super-produção e uma caríssima e belíssima obra essa nossa vida.
Somos todos atores interpretando a nós mesmos e em busca de um final feliz e surpreendente, em busca da aprovação , do amor, do aplauso...em busca dos expectadores que nunca vem.
Então, descobrimos que todo nosso talento será esquecido, o que pensamos ser nosso legado não significará nada, nossa fortuna não será gasta por nós, e os críticos sempre estarão a postos para nos destruir, nos difamar, nos diminuir.
E em meio a esse silencio, e só se houver muito silencio mesmo, é que perceberemos Sua Presença na coxia...
E eu , que queria tanto agradar, que desejava tanto amar e ser amada, que sonhava tanto em fazer algo belo, descubro que é ELE quem tem se agradado de mim, que tenho sido muito amada por ELE , e que é ELE quem tem recebido todos os meus sonhos e cuidado de cada um deles...
Tudo foi ELE quem fez, tudo é ELE que torna agradável, e todo meu amor é DELE que vem.
E eu me silencio e me emociono com Sua doce presença e Seu olhar de amor.
E quando percebo, as luzes se ascenderam, as cortinas se fecharam, o cansaço se acabou, as dores já não existem mais e finalmente não será preciso interpretar.
Posso enfim ser apenas eu e saber que já tenho por quem esperar.
[O que logo me lembro de uma música de Martin Piper: In Deinem Licht – Na sua luz]
Na sua luz você me vê
me reconhece e me chama pelo nome
Você vê meu coração
dor e gratidão
ele está diante de ti aberto, Senhor
Todo meu ser, dia a dia
só faz sentido, quando não sou outra pessoa
Como você me vê e o que você ama em mim
isso eu quero ser e somente isso
Por isso me entrego
o que quero e o que sou
despego e adoro
Pois o seu sim para mim
me faz livre diante de ti
para ser apenas eu mesmo
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