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segunda-feira, 6 de julho de 2009

Heróicas lágrimas estrangeiras

A fumaça negra começava a arde-lhe e sufocar-lhe os pulmões. Trancada no 11º andar, abraçada a seus dois mais preciosos tesouros tentava, no desespero, transmitir-lhes a calma que não tinha.
Lá fora agarrado ao celular o herói protetor, sustentador resoluto e incansável, vê seu mundo sumir num pesadelo mais que real.
A morte desaba como uma noite escura sem lua ou estrelas trancafiando num porão gélido e empoeirado o coração de um pai, e arrastando com ele um pouco de todos nós, almas anônimas.
Ainda que contingente, a tragédia é debitada à engrenagem capitalista. Essa não se envergonha de mostrar seus dentes, num sorriso macabro para aqueles que insistem em empurrá-la, para por ela mesma não serem triturados.
O fato que ocorre em solo estrangeiro, londrino, vem para amargar mais ainda de forma exponencial a dor e a solidão que já eram em níveis mais que insuportáveis.
Ó solidão maldita, tu não triunfastes. A mãe partiu com o frescor doce dos bracinhos de seus filhotes e estes no regaço calmo do seio materno. E os três acalentados pelos ecos da voz daquele que, naquela exata hora, se transubistanciava em puro amor.
Para Young nesses momentos, aquele que, no início pairava sobre a face das águas, toma total controle da situação e envolve as almas aflitas e vitimadas removendo-lhes todo o horror que, nós, meros ouvintes e expectadores mudos, nem podemos suportar ou sequer imaginar.
E lá no asfalto da metrópole, no chão do mundo, mais uma vez foram entornadas as lágrimas estrangeiras de um herói, e de todos aqueles que juntamente com ele toranarm-se mais sós.