Segundo me contou foi mais ou menos assim:
Achou em um ponto de ônibus um boletim com símbolos religiosos e resolveu pegar e ler para passar o tempo. Lá estava a passagem quando Jesus expulsou os vendilhões do templo, seguido por um complemento no mínimo curioso.
“Então Jesus subiu ao monte das oliveiras com seus discípulos, ofegante, com o coração palpitante e com as mãos ainda trêmulas. Assentou-se cabisbaixo.
Durante o caminho houvera um silêncio insuportável.
Finalmente Pedro resolveu questionar o Mestre:
- Jesus, o que foi aquilo?
Jesus levantou os olhos e viu os doze lhe contemplando ainda atônitos e com olhos arregalados e bocas abertas.
- Não sei... acho que perdi a cabeça... exagerei, não foi?
- Senhor, a causa foi justa, mas nunca te vimos assim!
- Eu sei, eu sei, me perdoem.”
Novo convertido zeloso, jogou logo no lixo o panfleto, se não tivesse parado de fumar teria queimado-o ali mesmo.
De repente se surpreende com uma buzina amiga e um sorriso cheio de dentes. Era o pastor da igreja, que lhe oferecia uma carona.
- Entra meu amado, que alegria imensa em vê-lo. Para onde você vai?
Passadas algumas esquinas ele toma coragem e pergunta ao dócil motorista:
- Pastor, o que o senhor entende da passagem onde Jesus pega no chicote?...
Mal terminou a pergunta e vem um buzinada estridente e nada amiga:
- Seu barbeiro!!!! Grita o pastor – Você viu isso, meu irmãozinho? Mudou de pista sem nem dar seta! - Surtava o líder evangélico acelerando o carro e tentando alcançar “o barbeiro”.
E o fez no próximo semáforo, tão vermelho como a cabeça do pastor. Lá se deu uma discutição cheia de xingamentos que terminou com uma acelerada estrondosa e um “Deus te abençoe”, que pelo tom de voz e contexto poderia (e deveria) ser muito facilmente traduzido por “vá pro inferno”!
Seguiu-se um silêncio insuportável.
- Desculpe-me, o que o irmão queria saber mesmo?
Nada, não pastor... Aqui já tá ótimo pra mim, você pode me deixar no ponto de ônibus ali na frente.
2 comentários:
Legal! :)
Engraçado que quando deparamos com o choro de Jesus, com o desespero quando a morte se aproximava, nos parece natural aceitar a condição humana onde ele se colocou. Mas quando se trata de um momento de ira, ninguém toca no assunto.
Quem não tem vontade de quebrar tudo, quando se depara com esse circo que virou a igreja? Bom, pelo menos eu tenho. Me identifico com aquele sentimento de Jesus, diante dos que profanavam o que era santo.
Quem não tem vontade de quebrar tudo, quando se depara com esse circo que virou a igreja? (2)
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