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sábado, 12 de setembro de 2009

Gênesis 26 – mau começo, fim pior

Para os olhares mais atentos dos que estiveram acompanhando meu Blog, ficou claro que estou fazendo uma releitura de Gênesis. Devo também ter deixado transparecer como é lenta essa leitura, uma espécie de slow food.

Gênesis é aliás um livro para não apressados, ou seja, para ninguém que nasceu depois da invenção do automóvel ou dos aviões, para nenhum de nós que já descobrimos que é Tempo demais o que o Senhor do Tempo exige (e não tem palavra melhor) da gente.

  • A primeira barreira que encontro é:

“Porquanto Abraão obedeceu à minha voz, e guardou o meu mandado, os meus preceitos, os meus estatutos, e as minhas leis.”

- Leis?! Estatutos?!! Abraão?!!! Não haveria algo de anacrônico aqui? Será que Moisés já não começou a inserir algumas coisas para ir preparando o espírito do povo para a “pedrada”, com todo respeito, que viria nos volumes seguintes de sua pentalogia?

- Sejamos sinceros e objetivos: Abrão não recebeu, não conheceu e por isso não podia observar lei nenhuma!

- Mas não. Deus não chama as coisas que não são como se já fossem?

- Hummmm… (não convence!)

- Então pensemos o seguinte: quem ama cumpriu a lei! (e negócio fechado, bola pra frente).

  • Vamos à segunda barreira:

“…porque o SENHOR o abençoava. E engrandeceu-se o homem, e ia enriquecendo-se, até que se tornou mui poderoso.”

Pera aí! Então a teologia da prosperidade está correta? (Nisso Gênesis é uma verdadeira corrida de obstáculos.) Nos faz pensar Como Zaqueu (se ele não tivesse encontrado Jesus), e não tirar a razão da turma da prosperidade (Igreja Cristã Inclusiva: seja você mesmo, as bênçãos de Estevam para setembro, Sara Nossa Terra: independência?, Marco Feliciano: programa do dia 06/09), ou pelo menos ficar abismado de como Deus armou uma arapuca muito bem armada, ou forneceu material de sobra para o diabo fazer do primeiro livro da Bíblia um campo minado, quase sem saída, para os espertalhões.

  • Mas nem tudo é um mar de rosas:

“[Esaú tomou duas mulheres] E estas foram para Isaque e Rebeca uma amargura de espírito.”

Agora (no último versículo) o capítulo começa a falar nossa língua, a realidade dura e cruel do dia a dia, um drama familiar (que, diga-se de passagem, está sempre presente em Gênesis): duas noras atormentando sogro e sogra.

Se isso tem a ver ou não com administração de empresas e igrejas, eu não estou bem certo. Mas tudo deixa transparecer de forma conclusiva, pra mim, que entre Deus e o homem, e entre os homens, esse jogo de influências e poder (no melhor sentido que essas palavras podem ainda ter) não possui regras fixas e exatas:

um capítulo que começa com fome, é recheado com a aparição do próprio Deus e prosperidade, termina com amargura de espírito.

9 comentários:

Janete Cardoso disse...

"- Sejamos sinceros e objetivos: Abrão não recebeu, não conheceu e por isso não podia observar lei nenhuma!"

Abraão era amigo de Deus e batia altos papos com Ele, será que nesses papos rolava o que? :P
Creio que o pai da fé recebeu sim as leis de Deus "informalmente", ou as promessas eram por alto? Mesmo assim, foi justificado pela fé, porque era homem como qualquer um outro.

“…porque o SENHOR o abençoava. E engrandeceu-se o homem, e ia enriquecendo-se, até que se tornou mui poderoso.”

É, os lobos vão usar isso como teologia, mas pra mim, este ponto entre a bênção e o poder, faz muita diferença.

Abraço fraterno

Janete Cardoso disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Janete Cardoso disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
ROGÉRIO B. FERREIRA disse...

Boa tentativa, Janete,
mas o dia que algum amigo, seja ele quem for, vier com um compêndio de leis durante um prazeroso papo, será o início do fim de uma amizade.

Abraços pra ti também.

Janete Cardoso disse...

E Cristo também não nos deu sua lei? Aliás, um tanto mais difícil que a outra...

ROGÉRIO B. FERREIRA disse...

Sim, Janete.
Mas o texto de Gênesis me passa a idéia de, no mínimo, um levítico completo (estatutos, leis), acho que os dez mandamentos já seria muito para Abraão naquela época!
A lei de Cristo foi passada, a meu entender, não como um regulamento a ser observado, mas muito mais como um exemplo a ser seguido (por isso mais difícil e mais complexa). É a diferença entre a letra e o espírito, entra a morte e a vida.
(engraçado esses diálogos, divergentes, escritos, nunca conseguirei imprimir e transmitir o correto tom de voz...)
Abrçs!!

Janete Cardoso disse...

Desculpe, eu também gosto de falar olhando nos olhos, assim a pessoa entende não só através do tom de voz, mas a pode sentir nossa intenção, não é mesmo? :)

Quando Jesus disse aos discípulos: Vocês são meus amigos, se fizerem o que eu mando, te parece que foi apenas um exemplo?

ROGÉRIO B. FERREIRA disse...

Acho que em sua primeira pergunta se esconde a resposta para a segunda.

Janete Cardoso disse...

Garoto esperto! :P
Abração!