Na verdade eleição sugere-me muito mais o que acontecerá em outubro no Brasil. Ou a batalha pelos votos entre PV, PT, PSDB e etc.
O mesmo vale para comida, que infelizmente ainda é tema de campanha eleitoral e deveria estar na pauta de qualquer governo brasileiro, até que seja banido de uma vez por todas esse crime que é, num país como nosso, campeão em exportações do agronegócio, termos ainda massas de desnutridos.
Mas o tema é outro, teologia. No 5 Solas achei essa citação:
Os que buscam tornar-se crentes poderão argüir: "Se eu não estiver entre os eleitos de Deus, então não importa o quanto eu deseje ser salvo, pois jamais o serei".
Esse pode parecer um argumento plausível, mas na verdade é um grande erro. Deixe-me ilustrar o que quero dizer. Suponhamos que um alimento é repentinamente apresentado a um homem faminto. Teria sentido ele dizer: "Não sei se Deus pretende que eu seja alimentado por este determinado alimento. Por isso, não importa o quanto eu o deseje, não posso comê-lo". Não seria muito mais sensato dizer: "Tenho um forte apetite. O alimento é o meio de satisfazer o meu apetite. Portanto, eu comerei este alimento" - A. Booth.
É engraçado como certas lógicas são tão simplistas. Fiquei pensando se usássemos a mesma linha de raciocínio poderíamos dizer:
- O cara não está faminto, tem apenas fome;
- Não só um alimento é apresentado a ele, mas vários;
- Os alimentos não chegam de forma repentina, mas estão sempre lá.
Então ele não pegará a primeira coisa que aparecer! Assim se o sujeito pensa na hipótese de não estiver entre os eleitos ele poderia simplesmente rejeitar o evangelho e partir para a próxima oferta, seja ela espírita, hinduísta, budista ou qualquer outra coisa que lhe dê mais certezas.
Obviamente se ele se vê entre os eleitos ele "morderá a isca."
Ou…
- O cara está mesmo faminto;
- Não só um alimento é apresentado a ele, mas vários;
- Os alimentos não chegam de forma repentina, mas estão sempre lá.
Então ele pegará a primeira coisa que aparecer! Assim se o sujeito pensa na hipótese de não estiver entre os "eleitos" (seja eleitos aqui entendido como os iluminados de qualquer religião ou seita) ele poderia simplesmente abraçar aquela religião ou seita para deixar-se convencer que está entre os caras, sejam eles testemunhas de Jeová, scientology, Mórmons, cristãos, espíritas, hindus, budista ou qualquer outra coisa que lhe chegue primeiro à mão.
Obviamente se ele se vê entre os "eleitos" ele não "morderá a isca", mas comerá ela com anzol e tudo.
A conclusão para mim é que os que buscam ou não tornar-se crentes poderão argüir: "Se alguém não estiver entre os eleitos de Deus, então não importa o quanto ele deseje ser salvo, pois jamais o será". E correrão o sério risco de estarem certos, dentro dessa lógica da eleição.
Isso sim eu penso ser um grande erro.
Meu ponto é: não se pode jogar toda a responsabilidade da salvação nos braços de Deus. Assim o questionamento é legítimo e até necessário para que se faça uma escolha lógica e movida, se não pela lógica, pelo menos pelos próprios anseios e reflexão.
Booth parte da premissa que a pessoa está faminta. É verdade, conheço muitos casos de pessoas que estavam em crise e abraçaram, então, uma crença religiosa. Eles buscavam algo que transcendesse, fosse além da verdade nua e crua dos seus problemas e assim desse-lhe um sentido para aquele sofrimento. Nem sempre as pessoas escolhem o evangelho, mas elas pegam a primeira coisa que lhe chega às mãos, justamente porque estão famintas.
Mas na maioria dos casos as pessoas abraçam uma crença mesmo sem estarem em crise, ou famintas. Elas também querem algo transcendente, mas não abraçarão a primeira oferta. Elas irão analisar as propostas.
Em ambos os casos a doutrina da eleição poderá jogar a pessoa naquele beco sem saída do fatalismo, "e se eu não estiver entre os eleitos".
Da maneira que entendo e creio faz-se necessário deixar de alguma forma claro para a pessoa que as coisas não estão pré-definidas. Ela mesma decidirá o próprio futuro e ela também tem uma parcela de responsabilidade.
O que nos aborrece é que nem todos, na verdade a minoria, decide-se pelo evangelho, tal qual nós o entendemos. Então é muito fácil e simplista acharmos explicação na eleição, e dizermos que os que crêem de forma diferente da nossa são urubus em busca de carniça. Mas existe muita pomba se alimentando de carniça. Pois a mancha do pecado está em todos os homens. E da mesma forma existe muito "urubu" que rejeita a carniça. Pois o imago dei está também em todos. Enfim, realidade da salvação é mais complexa. Deus pode transformar, a todo e qualquer momento urubus em pombas, ou para ser bíblico até mesmo pedras em filhos de Abraão.
4 comentários:
Roger, meu irmão amado.
Gosto quando um texto do Cinco Solasblog provoca uma reflexão de sua parte. Nossas cosmovisões são tão diferentes que dificilmente concordaremos, mas não significa que não tiramos proveito de nossas conversas. Eu tiro e sou grato a Deus e ao irmão por isso.
Em Cristo,
Clóvis
Não nego que deva ter, mas não consigo enxergar relevância nessa discussão...
Oi Clóvis,
Acho que o principal proveito que tiramos dessas discuções - nós todos invariavelmente - é ficarmos mais convictos daquilo que já acreditávamos. Eventualmente aprendemos um pouco mais de uma outra cosmovisão, mais raramente ainda damos uma retocada na maquiagem da nossa própria e flexibilizamos um ou outro ponto, mas no fundo somos todos cabeças duras de mais. rs!
Abraços,
Roger
PS: estou sempre acompanhado vocês.
Rubinho,
a relevância está mais no com quem do que no que se discute propriamente dito.
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