Sentado no quintal, num entardecer quase frio, Neemias meditava. O sol perdia seu brilho e cedia ao céu um pouco da cor avermelhada.
Nenhuma voz, nenhum versículo, nenhuma lembrança, nenhum livro, revista ou devocional, nada trazia àquele cristão do interior brasileiro o sussurro da Palavra Divina. O coração estava porém seco e angustiado. Palavras faltavam-lhe aos lábios e à mente.
Subitamente ele levantou-se dos degraus da pequena escada, a estrela Vênus já brilhava no horizonte. Sua esposa lhe abraçou e notou o olhar sério do marido. Ele riu suavemente.
O incômodo persistiu noite a dentro. Mas visão alguma trazia-lhe a luz necessária. Adormeceu e não sonhou o sonho que esperava. Se sonhara qualquer coisa não mais se lembrava.
Neemias foi à padaria. Algo de 10 minutos para ir e voltar.
Enquanto servia para a mulher o café que acabara de coar, decidiu-se:
- Isto precisa ter um fim!
- Isso o que?
- Temos tudo o que precisamos e um pouco mais…
- Sim?
- E muitos não tem nada ou quase nada. É hora de assumirmos o que cremos, e fazermos nossa parte.
- O que você quer fazer Neemias?
- Ainda não sei. Mas precisamos botar um fim nisso. No que cabe a mim eu farei minha parte.
- Não sei… não me venha com suas maluquices!
Neemias pegou um caderno velho e um lápis. Anotou algumas coisas. Fez algumas contas.
Passou a parte da manhã toda ocupado em selecionar e empacotar todo o supérfluo. Foi ao Banco e sacou as reservas.
De mãos dadas com a mulher foi ao bairro mais pobre daquela cidade. Era uma favela.
- Você tem certeza que isso é certo?
- Claro.
- Deus te falou algo?
- Sim.
- O que? Como?
- Não sei. Não sei. Mas foi Ele. Sei que foi Ele.
Bateram na porta do primeiro barraco. O menino que abriu a porta recebeu agradecido boa parte do “supérfluo”.
Bateram em mais três ou quatro portas e estavam aliviados da carga.
- Como você sabe que essa gente não usara o dinheiro para comprar drogas?
- Eu não sei…
Dormiram abraçados com uma paz no espírito e um sabor risonho nos lábios.
Dias mais tarde ouviram que alguns líderes políticos e religiosos resolveram conclamar aquela pequena comunidade a distribuir seus bens. Eles tinham sido motivados pela iniciativa de um morador anônimo (alguns insistiam que tinha sido um anjo) que literalmente salvara a alma de algumas famílias que estavam a beira do precipício. Um marido tinha largado a bebida e começado a frequentar a igreja graças à resposta de oração. A mãe de uma menina cega creditou ao vereador do bairro - o qual insistia em não ter nada a ver com isso - a ajuda financeira para a operação.
Marcada a data a população atendeu em peso ao apelo. Alguns doaram imóveis. Ao todo somaram-se 5 caminhões, com bens diversos em diversos estados de conservação. Foi doado muito dinheiro em espécie. Alguns comerciantes abriram seus estoques (intocáveis há vários anos) para a necessidade alheia.
Apesar da saturação momentânea da demanda do mercado local por alguns determinados bens de consumo, logo logo com a renda adicional o comércio foi reaquecido.
Uma certa euforia, um fogo, se ascendeu naquela população. Nas creches, nas escolas, nos hospitais, fábricas e na lavoura havia uma áurea resplandecente de justiça e respeito alheio.
Outras localidade tomaram conhecimento da iniciativa. A capital e outras grandes cidades seguiram o exemplo.
Milhões foram beneficiados, mais os que deram do que os que receberam.
Alguns usuários habituais de drogas não conseguiam ao certo diferenciar se aquilo tudo era real ou se não passava só de mais uma viagem.
Em inúmeras cidades e municípios foram iniciados incontáveis pontos de trabalho para construção de moradias, reformas na infraestrutura urbana. A demanda por mão de obra em vários setores cresceu assombrosamente. Melhores salários foram pagos.
Em curto período de tempo o Brasil atingiu índices de distribuição de renda melhores do que os dos melhores países do globo.
O exemplo brasileiro contagiou a América Latina e países Emergentes. O países ricos participaram em peso. A África mostrou ao mundo suas riquezas estampadas no sorriso, na saúde e na qualidade de vida de seus moradores.
Sentado no seu quintal, num entardecer bem frio, Neemias meditava. O sol perdia seu brilho e cedia ao céu um pouco da cor avermelhada. Nuvens formavam-se no horizonte. O Evangelho era real, não o da distribuição de rendas, mas o da transformação do coração.
Neemias decidira ir pregar as Boas Novas em terras islâmicas (se na Turquia, não me lembro bem).
Deus lhe falara.
Um comentário:
"A Corrente do Bem - 2"???
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