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quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Sempre o protagonista

Como um fantasma que voltara para assombrar, Jesus de Nazaré permaneceria invisível, fazendo porém o costumeiro estrondo.

Ele pisava humilde e ousadamente as páginas do segundo manuscrito de Lucas como personagem central; e isso para total horror dos líderes judeus, os quais preferiam que o defunto ficasse devidamente quieto em sua sepultura.

Na verdade esse seria o principal ponto de conflito daquele relato: poderia o protagonista realizar a apoteose heroica e reviver? Seria acima de tudo possível que alguma pessoa, de alguma forma qualquer, ressuscitasse?

Para a classe dominante, a elite religiosa, tal questão inexistia. E se porventura existisse, já estava fechada: não há ressurreição de mortos.

A centralidade do evangelho repousaria contudo naquilo que para os discípulos tornou-se um fato concreto e portanto empírico, uma realidade palpável: o homem reviveu! E seria impossível, sim, “deixar de falar daquilo que tinham visto e ouvido”.

Essa centralidade representaria não somente a parcela qualitativa, “boas”, mas também a substantiva, “novas”, do Evangelho. Em outras palavras o Evangelho só é evangelho porque proclama contundentemente a continuidade da vida “ad infinitum”. A morte não foi de forma alguma a última estação. A dinâmica dos inter-relacionamentos pessoais se estendem juntamente com a vida de cada indivíduo, e em particular  juntamente à Vida d’Aquele indivíduo (o Eu sou), por toda a eternidade.

Este era o sorriso que se estampava no rosto do ex-paralítico e que era imitado por toda aquela gente: havia um poder mais forte que a famigerada morte, mais forte que a infernal doença, mais potente que todos os males que conspiravam contra a paz, a justiça e a alegria das pessoas.

A musicalidade do nome de Jesus garantia isso e ainda convidava a antiga palestina para bailar. Os ecos daquela melodia, iniciada há pouco mais de três anos pelo Servo carpinteiro, continuava e continuaria a embalar a mesma rebelião do Reino Divino.

Deus e Jesus estavam dando claros sinais de que não arredariam pé daquela empreitada.

(Continua…)