“Este texto [Mt 12:32] causou indizível infelicidade no mundo, pois que toda a espécie de criatura imaginava haver pecado contra o Espírito Santo e achava que não seria perdoada nem neste mundo, nem no outro.” – Bertrand RussellA queixa do filósofo é verdadeira e faz sentido. O pavor da ameaça causada por esse tão grave delito ofusca lamentavelmente porém, o alívio que deveria nos causar a interpretação literal [e olhe que não sou nenhum literalista] daquilo que o Mestre Judeu dissera imediatamente antes:
Eu lhes asseguro que todos os pecados e blasfêmias dos homens lhes serão perdoados… Mc 3:28Se todos os pecados serão perdoados – e ele não diz poderão ser, ou são passíveis de ser, eles diz serão – e se ele diz dos homens, quer dizer, de todos os homens (não só de uma casta de escolhidos), só restará então um nó em toda história da humanidade, possivelmente na minha ou na sua, a ser desfeito. Só há um tropeço a ser evitado:
…mas quem blasfemar contra o Espírito Santo nunca terá perdão: é culpado de pecado eterno” Mc 3:29.Esse versículo é o Anti-evangelho, é a má velha (favor não confunda com velha má). Ele é o anúncio da perdição eterna, do débito eterno, da condenação eterna e irrevogável. Portanto as tentativas de esclarecê-lo (inclusive essa) estarão diametralmente relacionadas e oposta à tudo aquilo que se interpreta, ou entende-se (que é a mesma coisa) por salvação ou Evangelho.
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Se os demônios foram condenados por deixarem o conforto e segurança de sua própria morada, homens serão salvos ao despedirem-se da sua.
A maioria de nós, se não todos, nos contentaremos em sermos servos inúteis, enquanto Deus ainda busca amigos, ou seja, sua imagem imaculada. Nos contentamos porém em sermos barros sem utilidade, letras mortas, enquanto o Pai dos Espíritos busca a verdade espiritual latente na alma de cada ser humano.
Enquanto Deus nos liberta e nos dá criatividade, buscaremos afoita e obstinadamente os limites e nos fixaremos neles. Queremos as regras, os mandamentos, as leis: “Tudo o que nos foi mandado”. Cumpriremos religiosamente todas nossas obrigações, nada mais.
“A gente somos inúteis.”
Não largaremos mão, não arredaremos pé, não moveremos um centímetro ou milímetro se quer além de nossa zona de conforto.Campbell afirma com propriedade:
“A pessoa comum está mais do que contente, tem até orgulho, em permanecer no interior dos limites indicados, e a crença popular lhe dá todas as razões para temer tanto o primeiro passo na direção do inexplorado”. Joseph Campbell em O herói de mil faces.Não queremos transgredir, morremos de medo de nossa santa rebeldia, não ousaremos saltar além de nossa própria sombra. Me diga quais meus deveres e os cumprirei a risca. - Ponto Final. E exijo que o mundo todo se comporte assim!
Por que, como Hoke Colburn, o motorista negro de Conduzindo Miss Daisy, não estabelecemos uma comovente e duradoura relação de amizade com quem chamamos de senhor(a)? Seria Ele mais preconceituoso que a branca senhora Daisy?
‘Somos servos inúteis; apenas cumprimos o nosso dever’ – nosso pecado jamais terá perdão.
Um comentário:
Roger
Deixe-me dar um pitaco aqui.
Creio que essa aparente contradição tenha solução mais simples do que possa aparentar. A menção a tal pecado por parte do evangelista diz respeito sim ao pecado do diabo contra Deus. Nesse caso, todo o esforço bíblico caminha na direção de deixar claro a impossibilidade do anjo decaído voltar às boas com o Criador em oposição à total disposição do Barba Branca em dar o perdão total aos homens (às mulheres e bambis também). Em outras palavras, nenhum ser humano seria capaz de cometer o pecado que o diabo cometeu e só ele poderia tê-lo feito. No caso, blasfemar contra o Espírito Santo. De alguma forma não somos capazes disso, mesmo querendo. Quando o fez, o diabo fechou essa possibilidade para nós. Sei que parece injusto, mas Deus não é muito democrático, como você está careca de saber. Abraço.
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