Salvo engano, foi em aula de religião na escola primária que estes atributos divinos foram-me pela primeira vez transmitidos. Deus é onipotente, onipresente e onisciente.
Ajudou-me por algum tempo, mas hoje os deixo repousar em algum lugar na estante de minha história pedagógica; assim como fiz com certos conceitos matemáticos, linguísticos, e etc.
No fundo o conceito de onipotência, embarca os outros dois. Quem pode tudo, pode estar em todos os lugares ao mesmo tempo, e pode saber tudo também. Resumindo a história, os atributos de Deus deveriam ser somente um: onipotente. Mas há controvérsias.
Todos nós, com um mínimo de conhecimento bíblico, iremos lembrar que “é impossível que Deus minta” ou que “Ele não pode negar-se a si mesmo”. Sim há coisas, e por sinal um punhado delas, que Deus não pode. Mentir, por exemplo, algo que nós, pobres mortais, fazemos às vezes instantaneamente, corriqueiramente e sem muito esforço; ou mesmo qualquer e toda classe daquilo que chamamos pecado. Deus não pode nada disso. Não pode assassinar, nem roubar, Deus não pode cobiçar.
Claro que você pode apelar para os verbos modais, e dizer que Deus pode, mas não quer. Ele pode mentir, mas não deve. Assim não o fará.
Isso só nos desvia um pouco da rota, mas no final nos levará ao mesmo destino. Deus não pode TUDO. Ele tem seus limites, ainda que impostos e guardados por Ele mesmo.
Alguém já explicou que Deus não poderia também fazer coisas absurdas como um círculo quadrado. O argumento é bom e digno de credibilidade, ainda que eu mesmo suspeite que não com muita criatividade e não com muita malandragem Deus seria capaz disso. Assim como Colombo foi capaz de colocar o ovo em pé.
Também o que agora me ocorre, é que se pensarmos num Deus onipresente, não podemos falar de um Deus que possa ocupar um só lugar no tempo e no espaço. Deus então não poderia deixar de ser onipresente1.
(Ness altura, ou antes dela, o paciente leitor dirá que Deus não pode ser explicado e ponto. Essa discussão seria vã… Mas espere um pouco, estou tentando aqui nem tanto explicar Deus ou dizer o que Ele seja, mas antes pelo contrário, a desconstruir o que dizemos tão frequentemente que Ele é, e tido como óbvio: onipotente).
Ou Deus é onipotente ou onisciente. E você há de concordar comigo, a não ser que você seja adepto do panteísmo.
Se ele já sabe tudo o que vai acontecer, e tem tudo planejado, e fechado, Ele não pode nada! Está preso a um plano, atado, refém de seu próprio plano. Um plano feito num passado remoto, onde só existiria Deus e o seu plano. Deus não é Deus, o plano é Deus!
Mas se Deus é capaz de fazer tudo e para Ele não existe impossíveis, é então capaz de fazer coisas novas, de criar! De fazer coisas inimagináveis, jamais planejadas ou sequer pensadas. Deus é o onipotente! Não está preso a um plano, Deus é criativo, Deus está livre. Mas obviamente perde em conhecimento, não poderá conhecer tão bem o futuro, Deus não seria onisciente.
Como, evidentemente, nem um extremo nem o outro é correto, parece então ser logicamente também verdade que: Deus soberanamente decidiu abrir mão de parte de sua onipotência e onisciência ao criar seres livres como Ele.
1Se começarmos aqui a pensar em Deus como três pessoas distintas em uma só, e dizer que Jesus não era onipresente, embora sendo Deus, resolveremos parte do paradoxo, mas criaremos outros, relativo à trindade, talvez assunto para um outro Post.
5 comentários:
Ainda bem que é só pensamento, porque, francamente...
O atributo que mais me impressiona não é nenhum dos 3 citados. O que é realmente doido é supor que Deus é eterno (e eu suponho que seja).
Se isso for admitido, aí todas as demais elocubrações vão por água abaixo.
Se esse 'eterno' é não linear, não submisso ao tempo, à acontecimentos concatenados subsequentemente uns aos outros, melou tudo.
O que é o antes e o depois pra essa camarada que é eterno? Fututo e passado?
Sei não. Acho que a coisa do lado de lá é muito outra.
Deus sabe de tudo mas nós podemos fazer diferente. Deus pode tudo mas nossas escolhas definem o amanhã. Essa é a piração.
Adorei o texto e n resisti em compartilha-lo em meu FB !!!
bjão pra vc
Caro Tuco,
sou tentado a dizer que o início de todo o problema divino é sua entrada no tempo e no espaço, enfim na própria história. Quando aparentemente ele deixa de ser eterno, e o lado de lá invade o lado de cá.
Sou tentado a concordar :)
Postar um comentário