Era noite de lua minguante. O barulho do vento era aterrorizante.
Lá fora o cachorro, fiel guardião da casa, latia incessantemente. Possivelmente um assaltante… ou coisa pior.
Agora, silêncio. O obstáculo, cachorro, certamente já havia sido eliminado. Bolinha, carne com veneno, ou simplesmente um tiro com silenciador, ou coisa pior.
Uma ação rápida fazia-se necessária, frente ao perigo iminente. Toda cautela era pouca.
Prendeu o fôlego. Sorrateiramente ela se descobriu e levantou-se num silêncio titânico. Achegou-se até a porta do aposento, onde tentava horas afim, sem sucesso algum, voltar ao sono. O vento sacudia a velha janela de madeira, que era protegida por uma grade de aço. Ali ladrão ou bicho não entraria, mas a porta da copa oferecia resistência nula. Bastaria um pé-de-cabra e, pronto, o pandemônio estaria feito.
Ficou observando o trinco da porta, talvez ele se moveria. O grito já estava engatilhado na garganta.
Tentou decifrar as sombras que variavam em formas, cada uma mais macabra do que a outra, nos vidros da janela da copa – que também era fortemente protegida por uma grade de aço. Os casos de arrombamento, morte e assassinato no bairro e redondezas não eram escassos.
Agora o cachorro voltara a latir, e mais estridentemente.
Não restava muito tempo.
Numa rápida e corajosa corrida atravessou a copa e chegou até a porta da sala, que era mais escura que a copa. Se o marginal, ou seja lá qual criatura fosse, já tivesse adentrado a casa estaria agora debaixo do sofá. Ou escondido em algum canto ali.
O coração disparou a mil. Voltar para o quarto era impensável e impossível. Tarde demais: a morte seria melhor do que ter que regressar novamente pela copa. Num ímpeto louco, e tirando forças que só Deus sabe de onde, avançou pela longa sala.
Deparou-se então frente à porta do outro aposento. Restava-lhe, agora, a última gota de coragem. Firmou o punho, fechou os olhos e bateu à porta:
- Quem é? Perguntou uma voz sonolenta.
- Sou eu. [Pausa silenciosa…] Não consigo dormir…
- Entra, meu bem.
A respiração e batimentos cardíacos já voltara ao normal. Aconchegou-se então instantaneamente ali, bem no meizim.
Agora, segurando o polegar do papai e sendo acariciado pela mamãe, aquela brava criancinha iria voltar ao seu doce sono, para em poucos minutos ser levada novamente para sua caminha.
Enquanto isso, lá fora, o cachorro percorria heroicamente o quintal, e policiava os gatos da vizinhança.
2 comentários:
Ah Roger! Voceme faz chorar tanto!!!
E foram tantas vezes que um dos pequenininhos veio aconchegar-se no 'meizim'. :)
Agora já tão grandinhos e enfrentam seus medos sozinhos.
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