Não é novidade o fato de que durante muito tempo a vida política brasileira foi fortemente influenciada por coronéis e caudilhos. Também não é novidade que, embora este tipo de influência hoje seja menor, estas figuras manipuladoras de opinião acabaram por dar lugar ao que hoje chamamos de “caciques” políticos.
O caciquismo, assim como o coronelismo e o caudilhismo, remonta ao tempo do Brasil Imperial. No entanto, esta figura sofreu, de certa forma, uma espécie de evolução.
Hoje, o cacique se impõe em determinada comunidade, cidade ou região valendo-se das muitas artimanhas herdadas do coronelismo e do caudilhismo. Dos coronéis, herdou as formas de imposição de sua autoridade pelo medo aos seus subordinados, já dos caudilhos, herdou a jeito astucioso de dominar as massas pelo seu carisma e espírito de liderança autoritário (possui em seu discurso forte apelo emocional). Poderia mencionar vários nomes destes “caciques”, porém isto não se faz necessário, visto que, apresentando estas características básicas, fica fácil discerni-los na sociedade.
Entretanto, o que realmente quero tratar aqui não é a existência e características deste tipo de gente em nossa sociedade. Mas, sim, o fato de que, infelizmente, este traço cultural tem sido recepcionado por muitas denominações evangélicas. A ignorância cultural do povo e a herança da tradição sacerdotal católica, na qual o padre é uma grande figura dotada de poder dominador sobre a sua comunidade, têm favorecido o surgimento de poderosos “caciques” político-religiosos em meio evangélico.
Outro fator que tem corroborado para a existência deste tipo de fenômeno é o ávido interesse (por parte dos evangélicos) de participar da política e galgar posições, quando nela já estão inseridos. Na realidade, o interesse pelo poder político fomentou muitos líderes a assumissem características do “caciquismo”.
O que é dito aqui é comprovado pela forma de fazer política de muitas das denominações brasileiras. Suas práticas podem ser vistas claramente em época de eleições: afirmando que tal pessoa (geralmente um candidato oficial da denominação) será “luz” no congresso nacional, na camara dos deputados estaduais ou na câmara dos vereadores, algumas denominações têm encabrestado seus membros (votos). Há suspeita de, até mesmo, vendas de votos de seus membros para candidatos corruptos. Nestas igrejas, em tempos de eleição, é muito comum ouvir coisas do tipo:
“Vamos orar para que Deus eleja o Fulano!”
“Quem dentre os que aqui estão se comprometem com a candidatura de Cicrano?”
“Quem é do ‘corpo’ vota em quem é do ‘corpo!’ ”
"É preferível errar votando em irmão do que em ímpio!"
Estes são apenas alguns dos chavões existentes dentro destas denominações para encabrestar os membros/eleitores. São realizadas também várias pregações, nas quais se utiliza a vida de José, Daniel, Neemias, dentre vários outros personagens bíblicos, para fundamentar o ardente desejo da liderança da igreja de possuir influência política . E ai de quem se opor à visão da liderança da igreja; este torna-se imediatamente um rebelde.
Infelizmente, este tipo de coisa trás conseqüências drásticas à igreja, dentre várias, eis algumas:
-A falta de interesse por parte dos líderes de proporcionar o crescimento e amadurecimento integral dos membros: uma vez crescidos, maduros e com consciência cristã de seu papel na sociedade, estes se tornariam “problemáticos”, pois, certamente não se deixariam fazer parte de “currais” eleitorais.
-abandono do modelo bíblico quanto a forma de manifestar a igreja. O retorno ao modelo sacerdotal veterotestamentário de liderança: o líder se torna o canal exclusivo da mensagem divina (o porta-voz de Deus): sendo desta maneira mais fácil impor sua autoridade sobre a comunidade de crentes. Havendo, também, com isso, o impedimento do exercício do sacerdócio universal e dons dos crentes.
-adoecimento da igreja. Uma igreja na qual seus membros não exercem o sacerdócio universal (cada crente um ministro), na qual o evangelho não é pregado integralmente, onde os membros não exercitam seus dons é uma comunidade que caminha fragilmente dentro de uma sociedade tomada pelo pecado e que dificilmente se manterá saudável.
-abandono do modelo bíblico de liderança. Segundo o modelo bíblico neotestamentário, o líder não é aquele que subjuga o rebanho para se aproveitar dele, mas, sim, aquele que doa sua vida ao rebanho e o serve. Então, o modelo bíblico de liderança é o do líder-servo (1º Pe 5-2,3).
É imprescindível que levemos a sério esta questão. Talvez, nas comunidades das quais façamos parte esta não seja a realidade vigente, no entanto, se somos mesmo um só corpo, devemos nos importar e batalhar pela saúde da igreja. Podemos fazer isto orando, vivendo a igreja como ela é descrita na Bíblia, pregando e ensinando a fé que uma vez foi entregue aos santos!
Deus nos ajude!
2 comentários:
Quando o povo brasileiro aprender a pensar por si mesmo esse país revolucionará o mundo.
O Brasil só aprenderá a pensar por si, quando ficar sem o falso amparo dos caciques.
Oi Beto,
vou te poupar dos meus elogios. Você já sabe o tanto que gosto daquilo que escreves...
Sabe o que me entristece nisso tudo? É que existe uma massa enorme clamando por gente assim! Eles não querem alguém que lhes ofereçam a opção de decidir por si próprios. Mas em uma sociedade onde os líderes decidem, sobre o que você deve beber ou comer, vestir ou não e etc, não poderíamos esperar que fosse diferente em se tratando de eleições.
"Anarquistas, graças a Deus!"
Mas o povo quer um "líder", um cacique. Alguém para adorar ou para pregar numa cruz, quando as coisas não derem certo. Essa massa não consegue enxergar o cinza: ou é branco ou preto, e pior precisa de alguém para decidir por elas em qual das duas categorias serão classificados os diversos tons de cinza.
Pois é, só uma liderança servil, longe da instiutuição poderá reverter isso. Se é que essa reversão é ainda possível.
Abrçs,
Roger
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