Ninguém como Rubem Alves em seu livro "A Alegria de Ensinar" expressou e traduziu melhora minha outrora "Tristeza de Estudar".
Fui educado em bancos de escola pública em época de ditadura militar debaixo de um legalismo positivista que pensava nos conduzir a "Ordem e Progresso" na base da força. A escola era mera instituição alienada de sua comunidade, onde o diretor era o homem que mais chingava palavrões que eu já cohecera.
As professoras e supervisoras todas vindas de berços católicos, não se diferenciavam em quase nada (segundo meus colegas do colégio batista narravam) das protestantes. Éramos obrigados a rezar o pai nosso e ave marias e pedir ajuda a santos e anjos todos os dias antes das aulas. Coisas da cultura mística brasileira... Não havia muito espaço para a razão, para o livre arbítrio ou liberdade.
Poucas vezes em raros dias sentíamos-nos ali amados. Na época nem fazia idéia do salário de uma professora. Hoje tenho melhor noção do que era o amor delas pela profissão. Com o passar dos anos as greves foram tornando-se mais freqüentes.
Também não éramos pefeitos, nem anjinhos. Eu especialmente não. Como Rubem Alves, Fernando Sabino também traduziu extraordinariamente bem esta revolta (que não deixa de ter seu lado mesquinho e orgulhoso) que aflige uma alma presa a uma instituição opressora, conservadora e reacionária.
"Odiava o Ginásio, o regulamento, a disciplina, a sujeição aos professores. [Eduardo] Prometeu a si mesmo vingar-se daquele lugar — não sabia bem de quê — no último dia em que viesse ali, quebrando o globo de iluminação da entrada. Sentia-se diferente de todos, superior, privilegiado, único. Olhava com desprezo a massa ignara dos colegas, seres vulgares, relaxados, não sabiam se vestir, andavam despenteados, suados, sujos, jogavam bilhar, preocupavam-se com os exames — passar nos exames era tão fácil!
(...)
Eduardo deixava aquele lugar sem saudade. Não chegou a ter outra conversa com o diretor: pouco tempo depois o padre morria, nem houve solenidade de formatura por causa disso.
No último dia não chegou a quebrar o globo de luz da entrada principal.(...)
O prédio, assim fechado, pareceu-lhe triste e envelhecido — não havia alunos, estavam em férias. Havia um poste de iluminação à entrada principal, o globo não fora quebrado. Agachou-se, apanhou uma pedra e atirou-a. Errou o alvo e foi-se embora, envergonhado, temendo que alguém tivesse visto."
Fernando Sabino em O encontro marcado
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