Biblicamente falando, o objetivo de Deus, a grande ênfase de gênesis a apocalipse, sempre foi um novo começo e não reformar o velho. Por exemplo, Deus não reforma o coração humano, mas lhe dá um novo. Deus não reformou o judaísmo, mas deu início a uma nova forma de culto e adoração. Deus não reformou o tabernáculo, mas construiu um novo templo. Deus não esteve preocupado em reformar a igreja (instituição), mas ao longo da história promove novos movimentos autônomos. Por isso os chamados reformadores nunca existiram. Não existe igreja reformada. No máximo existem novas igrejas que preservam elementos antigos.
Os paradigmas da “Reforma”, o modelo que ela propunha, a ênfase que levantou no valor das escrituras, da fé e da graça (Cristo e Deus adicionalmente) não teriam mais sentido hoje, na medida que estes pontos, até mesmo na igreja “católica” romana se tornaram enfáticos.
Por isso dói muito para nós que crescemos nos orgulhando desta grande descoberta de mais de 500 anos, de repente, ver-nos forçados a abandoná-la. A ênfase nas Escrituras, na Salvação pela fé e pela graça somente vem se tornando tão exagerada que para nos aproximarmos da vontade divina e da verdade revelada precisamos apelar para o outro extremo: menos Bíblia, por favor! Menos fé! Menos graça! Menos “Jesus”! Menos "glória" a Deus, pelo amor de Deus.
Vejamos separadamente cada ponto:
1) Menos Bíblia – Será que precisaria ser dito algo mais a esse respeito? Por um lado estamos todos nós fartos da hipocrisia dos doutores da lei evangélicos, do legalismo crente, do uso abusivo das escrituras que a melhor coisa a se fazer é dar férias aos livros sagrados e deixar que eles assumam novamente seu valor de sagrado. Por outro lado, há tanta riqueza na cultura secular que foi desprezada, banida, excomungada e queimada em praça pública (ou púlpito) que já passou da hora de valorizarmos o santo naquilo que Deus por graça deixou à humanidade não santa, por graça.
8 comentários:
Roger,
Parabéns pela sua coragem - não só no título, mas principalmente no conteúdo!
Roger,
A Reforma só faz sentido se for contínua. Uma Igreja sempre se reformando. É mais uma questão de método do que de conteúdo. Ser reformado não é ficar repetindo o que uma Reforma propôs, mas ter a coragem de reformar tão grande quanto aqueles reformadores tiveram.
Você já começou a indicar uma possibilidade de Reforma.
Um abraço.
Só uma provocaçãozinha... Você iniciou "Biblicamente falando" e terminou com "Menos Bíblia". Esta é a nossa teologia cristã. O que seríamos sem o "paradoxo" — uma palavra bonitinha para conter contradição?
Nani,
obrigado pela visita e insentivo. Devolvo o cumprimento pois suas postagens são também muito boas e não menos corajosas!
Felipe,
já estava preocupado com esse paradoxo (quase que intencional e totalmente provocativo). Meu drama principal é agora como dar seqüência à série deixando a Bíblia de lado... e permanecer biblicamente. Mas tem jeito.
No fundo terei que usar de outros paradoxos ao esbarrar nas 4 outras solas.
Parodoxia, também amo essa menina. Nessa briga da familia Doxia é a única a transitar ilesa entre as irmãs heterodoxia e ortodoxia.
Meu muito obrigado aos dois e um grande beijo,
Roger
No meu ver, o dualismo entre "natureza" e "graça" é resultado justamente, daquilo que concilia estas duas esferas, a lei. A lei não é negativa, antítese de graça, ao contrário, reconhece que a generosidade de Deus está dispersa em toda criação, e que lidar com a graça, implica responsabilidade, posição de justos. O antinominismo não é a melhor solução para lidar com o gnosticismo cristão hodierno. Mas, devolver a graça da lei, que concilia o justo com a criação de D'us em suas múltiplas facetas. De Tom Jobim à Michel Foucault.
No fundo não entendi a parte "de Tom Jobim a Michel Focault"...
Não consegui ver o texto completo só o primeiro ponto quero ler o restante. Muito interessante.
Aqui Daniel:
https://teologia-livre.blogspot.de/2008/11/reforma-anti-bblica-4.html
https://teologia-livre.blogspot.de/2008/11/reforma-anti-bblica-5.html
https://teologia-livre.blogspot.de/2008/11/reforma-anti-bblica-3.html
https://teologia-livre.blogspot.de/2008/10/reforma-anti-bblica-2.html
https://teologia-livre.blogspot.de/2008/10/reforma-anti-bblica-1.html
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