A verdade é que quando me lembro de Natal em Guarapari não posso ocultar três fatos marcantes e determinantes de minha espiritualidade:
O primeiro deles está relacionado às missas de Natal na igreja de Nossa Senhora da Conceição, que tem o formato da um barquinho a vela. Gostava de estar ali, cantar as músicas típicas de Natal e sentir aquele vento vindo do mar entrando pela janela. Observava com curiosidade o presépio. Como poderia aquele menino ser Deus? E todos aqueles anjos em meio aos animais criavam um cenário um tanto quanto atípico para alguém nascido e crescido em uma grande cidade.
O segundo fato está relacionado aos altos bate papos que tínhamos em família. Certa vez meus tios presbiterianos e eu conversávamos sobre religião. Meu tio mencionou algo sobre a luta entre o espírito e a carne, e a influência que Deus e o Diabo tinham sobre um e outra. Fiquei muito perturbado ao ouvir aquilo. Primeiro não gostava de ouvir sobre o Diabo de forma não abstrata. Depois aquela idéia de espírito e carne com diferentes inclinações era algo novo. Para um mineiro no auge de sua adolescência, ouvir falar de paixões carnais relacionada com o Diabo em suas férias de verão estava completamente fora do script. Custei a tirar aqueles pensamentos da minha cabeça, aquela noite.
Por fim, talvez por não conseguir vencer aquela idéia enxertada por meu tio, me via mergulhado em uma profunda crise existencial. Já não tinha tanto prazer assim nas missas de Natal... Comecei a ler e me interessar por algo sobre o budismo, viagem astral e poder da mente. Em pouco tempo me vi sem referencial. Onde estaria afinal a verdade disso tudo? Como podemos ter certeza que uma religião e certa e a outra não? Essas foram algumas das perguntas que jogava diante do mar, vendo o por do sol alaranjado, ou que fazia em minha caminhada pela manhã quando saía para comprar o pão quentinho.
Foi quando aconteceu o terceiro fato. Conversava com minha mana mais velha sobre esses grilos, e ela, na época passando por um reavivamento espiritual, ativa na igreja, me afirmava categoricamente que haveria como termos certeza. Mas como? Perguntava eu sedento - Roger, a Bíblia é a Palavra de Deus, o que está ali é verdade. - Mas como você pode garantir isso, Elisa? - Eu revidava. - Deus não nos deixou na mão. Podemos confiar na Bíblia - E ela afirmava de forma tão convicta e amorosa que uma hora acreditei. Não consegui conter as lágrimas. Nos abraçamos e chorei aliviado de alegria. No ano seguinte passei a devorar aquele livro de capa marrom.
Leia também: Um conto de Natal (1)
3 comentários:
Querido, amanhã não terei condições de acessar o computador, na certa lerei o final de sua postagem mais tarde. Mas é verdade, nós os jovens cristãos tivemos a cabeça bombardeada por conceitos de todo o tipo, eu por exemplo abandonei tudo e segui o caminho do esoterismo, perdendo um tempão danado só pra voltar e...começar tudo de novo a partir da Palavra de Deus.
Mas enfim é Natal, venho aqui te desejar um Santo e abençoado Natal. Em Cristo, nossa única esperança.
MaMaNunes,
Marcia e Marcio Nunes,
aos amigos, filhos, netos, irmãos, agregados
e quem mais chegar, desejamos que
a lembrança traga a perseverança
que a perseverança,
traga a esperança de dias melhores
sempre...
"Viva" o Natal!
Um grande abraço!
Roger, Suas lembranças da infância em Guarapari e, especialmene esta, que nos mostra o limiar de sua fé, de sua verdadeira vocação cristã, nos trazem alegria, emoção e muita saudade de um tempo que o vento levou... Continue a escrevê-las! Assim nada disto se apagará para nós e um novo momento de alegria irá invadir os nossos corações. Com muito carinho e uma bênção toda especial de Natal para você, Tanja e Anna-Lisa De seu Papai "corujão" Augusto
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