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terça-feira, 26 de maio de 2009

Conheceria Deus o futuro? (parte 3)

Esse assunto é de extrema importância, pois:

1) A sociedade brasileira mais do que outras tende a acreditar demais no destino;

2) A crescente influência calvinista reforça a crença na (pré)-destinação;

3) Esses dois elementos culturais unidos paralisam o povo evangélico brasileiro impedindo-o de ser o agente modificador de sua própria história e da sociedade na qual está inserido (assista o vídeo: Entrevista Ariovaldo Ramos - Tema: Crise Ambiental).

Lembro-me de conversar certa vez com uma garota evangélica que afirmava que Deus já sabia tudo o que aconteceria em sua vida, inclusive com quem ela iria se casar. Será que Deus já sabe mesmo com quem as pessoas irão se casar?

Se pensarmos em um Deus todo poderoso e sem limites, mais parecido com um computador ou com uma força fria e impessoal capaz de calcular todos os acontecimentos, intervindo como bem lhe aprouvesse, para garantir que sua vontade sempre prevalecesse, diríamos, então, que esse deus, de fato, conhece todo futuro, de forma absoluta e plena.

Em contrapartida teríamos que dizer que ele nunca amou ou ama o ser humano que criou, pois lhe tolhe um dos dons mais precioso que Ele mesmo nos outorga, a liberdade. Nosso Deus, porém, é um Deus de liberdade.

“Onde está o Espírito de Deus aí há liberdade!”

Se você partir do ponto que os atributos primordiais de Deus são onipotência, onipresença e onisciência você jamais chegará ao Deus revelado por Jesus. Pois Jesus, para nos revelar Deus, esvaziou-se desses três atributos, não deixando, porém nunca de ser pessoal e amoroso (leia o artigo Teologia Relacional – Que bicho é esse?).

Definamos então Deus como “a pessoa” que criou tudo o que é visível e invisível e que essa pessoa é infinitamente amorosa, ao ponto de ela mesma ser “o amor” absoluto, entender isso faz-se primordialmente essencial para entendermos a relação dEle com o nosso futuro.

Livre-arbítrio versus predestinação

É comum em teologia fazermos a oposição entre as crenças do livre-arbítrio e a da pré-destinação. Interessante é que ambos os termos são exageros etimológicos. Primeiro, porque toda destinação só pode ser “pré”: Não há como darmos um destino para algo a não ser de antemão. Segundo, porque todo arbítrio é livre: Se não for livre não é arbítrio, não é escolha, é imposição.

Se reduzirmos esse antigo embate teológico aos termos “destinação” e “escolha”, veremos que no fundo ele se resume a uma só palavra: “vontade”. Vontade tem, no seu sentido ativo, tudo a ver com futuro: a vontade só pode ser voltada para o futuro: Você não teria vontade de ter ou ser algo que você realmente já é ou tem! A questão então é:

Como se relaciona a vontade divina com a vontade do ser humano? Como você e Deus encaram e determinam o futuro?

Para um debate livre de sofismas, o correto logicamente seria ficarmos, primeiramente, em um mesmo patamar de tempo (passado, presente ou futuro) e também em um mesmo patamar de ação (escolha ou determinação).

Brincando com as palavras diríamos que (pré)-arbítrio é sinônimo de livre-destinação, ainda que toda escolha também seja sempre “pré”, a destinação, essa sim, pode ser livre ou não.

Lembre-se que estamos falando aqui da vontade de duas pessoas, sendo que uma delas é perfeitamente amor, e não deve ser confundida com a vontade tirânica de um deus impessoal!

Esse é o real problema, o verdadeiro conflito:

E quando a vontade do homem e a de Deus estão em choque!?

Poderíamos para entendermos melhor essa temática passarmos por alguns textos bíblicos. Isso é o que faremos futuramente, se Deus não tiver planejado algo diferente...

Leia também:

O que afinal de contas Deus não pode? (parte 2)
Conheceria Deus o futuro? (parte 1)

8 comentários:

Tuco disse...

"Isso é o que faremos futuramente, se Deus não tiver planejado algo diferente..." :-)

Acompanhando. Vamos ver onde vai dar isso.

Lou H. Mello disse...

Não sei. O homem não tem mostrado grande talento quando se trata de intervir, pior ainda quando precisa governar. Meu primo Lou Tzu prefere a não intervenção, apesar de que, ele seja um cristão Tao. O Ariovaldo é outro fanfarrão feito Jesus, sempre querendo mudar o mundo. Não ligue para ele. Coitado do Calvino, também, quem mandou ele acreditar em Paulo e aquela conversa oca de predestinados à salvação. Ele poderia, ao menos, ter definido melhor "salvação". Enfim, não faço a menor idéia a respeito. :)

O Tempo Passa disse...

1- Não creio que os brasileiros sejam mais fatalistas que outras culturas;
2- Não creio que o calvinismo esteja crescendo no Brasil; talvez um arremedo, uma distorção, uma caricatura do calvinismo possa. Mas, não é calvinismo;
3- Colaboram para a paralisia, mas a cultura brasileira é rica em outros agentes paralisantes!
4- As aparentes contradições das características divinas são devidas mais à nossa incapacidade de apreender Deus do que verdadeiras contradições;
5- Jesus esvaziou-se da glória divina não para revelar-nos Deus, mas para resgatar-nos do pecado;
6- A "oposição" entre livre-arbítrio e predestinação só existe em quem não compreendeu nenhum dos termos;
7- Excelente a escolha dos termos "destinação" e "escolha"!
8- Ótimas perguntas - sobre as relação entre as "vontades, e sobre o "choque" de vontades!
Que venham as partes 4, 5, 6...!!!

ROGÉRIO B. FERREIRA disse...

Tuco,

eu também quero ver onde isso vai dar! :D

Sua observação sobre o que é um profeta (em foi-se um profeta) está aqui anotada para o momento oportuno.

ROGÉRIO B. FERREIRA disse...

Lou,

eu também não sei. Mas escrever está entre o navegar e o viver: é quase preciso.
Calma que já já chegaremos na salvação.

ROGÉRIO B. FERREIRA disse...

Rubinho,

os pontos passivos armazenamos em uma bateria para na hora que o motor parar termos uma energia extra para inguinição. Já os pontos conflitantes é o próprio combustível que faz o motor girar.
Agora já começo a vislumbrar o futuro da série!

Kenneth Eagleton disse...

Roger, vejo alguns problemas com esta linha de racioncínio, mas vou me limitar a comentar dois pontos:

1- Em se falando de Deus, você parece fazer confusão entre conhecer plenamente o futuro e determinar o futuro. São coisas inteiramente diferentes. Você parece negar a possibilidade de Deus conhecer plenamente o futuro porque isto faria com que Ele a determinasse. No entanto, Deus conhece plenamente o futuro, sabe de todas as decisões que agentes humanos livres tomarão, sem interferir na escolha.
Deus, através do seu Espírito Santo, procura nos influenciar, nos convencendo do pecado, da justiça e do juízo, mas não nos obriga. Ele respeita o nosso livre arbítrio. E quando a nossa vontade não coincidir com a de Deus, Ele nos permite trilhar por nossos caminhos. Mas uma coisa Deus predeterminou (ou determinou): o destino final. Para aqueles que escolhem seguí-lo e obedecê-lo (de livre vontade) - a vida eterna. Para aqueles que o rejeitam (de livre vontade) - a morte eterna. Podemos escolher o que vamos fazer, mas as consequências das escolhas já estão determinadas. A cada um escolher corretamente.

2- O segundo problema que vejo com este raciocínio diz respeito a sua compreensão quanto a pessoa de Jesus. Ele, na sua encarnação, não deixou de ser divino e de compartilhar da natureza divina. Na trindade são três pessoas, mas uma só essência. Isto inclui os atributos naturais e morais que as três pessoas da Trindade têm. É verdade que na encarnação de Jesus ele limitou (esvaziou) o uso de suas prerrogativas, mas não deixou de ser divino (ele tinha/tem tanto uma natureza divina quanto uma natureza humana). Ele demonstrou poder sobre a doença, a morte, a natureza e os demônios (onipotência). Ele desapareceu misteriosamente do meio de uma multidão que queria matá-lo antes da hora (uma parte da sua onipresença). Ele conhecia o coração e os pensamentos das pessoas (onisciência).

Tudo que você diz sobre o amor de Jesus e o amor de Deus Pai é verdadeiro. No entanto, o amor não é a única qualidade moral da Trindade. Justiça e santidade também são qualidades fundamentais, sem as quais não podemos entender corretamente a salvação e a vontade de Deus para nós. É necessário um equilíbrio saudável entre o amor, a justiça e a santidade de Deus para não cairmos em extremos equivocados.

scouto disse...

Prezado,este dilema predestinação e livre arbitrio ja foi deveras descutido, cabe uma consideração,, saber antes não significa predestinar, isto e que confunde a muitos, Deus sabe antes porque ele é Deus, assim como o ser humano não pode deixar de respirar, o Altissimo não pode deixar de "saber antes" porque ele deixaria de ser Deus.
O proprio conceito de Espaço-tempo da fisica, nos da o entendimento que o universo esta dentro de um "vacuo" como uma bola de aniversario. tudo que esta ali dentro deste "balão" (o universo) esta limitado cronologicamente, esqueça toda a controversia e pense em Deus como aquele que soprou a bola de aniversario (o universo) e colocou tudo ali dentro. Assim para ele não existe passado presente ou futuro tudo é agora.
Por isso a teologia relacional surgiu para tentar explicar o que não entendemos com nossa mente limitada e presa a este espaço tempo.
Visite este link, naõ é tão elaborado como este blog, mas la tambem tento pensar em teologia sem formatação.
http://teologiafacil-teologiablog.blogspot.com.br/