“— Providência ou acaso?, perguntou o tenente. Eu sou mais pelo acaso.” (Machado de Assis, Histórias da Meia-Noite)
Parece que o trem fantasma fundamentalista está voltando com as mesmas assombrações de sempre. Novos artigos maliciosos estão na Blogesfera, atacando pessoas que pensam e acreditam de forma diferente. Por que tanto azedume e amargura? Turma difícil...
Em contrapartida achei muito pertinente essa citação de Stott no Cinco Solas:
"Se amássemos mais a glória de Deus, se nos importássemos mais com o bem eterno das almas dos homens, não nos recusaríamos a nos engajar em uma controvérsia necessária, quando a verdade do evangelho estivesse em jogo. A ordenança apostólica é clara. Devemos “manter a verdade em amor", não sendo nem desleais no nosso amor, nem sem amor na nossa verdade, mas mantendo os dois em equilíbrio (...) A atividade apropriada aos cristãos professos que discordam uns dos outros não é a de ignorar, nem de esconder, nem mesmo minimizar suas diferenças, mas discuti-las." John Stott
Infelizmente aqueles caras, não tem muito amor em suas retóricas e muito menos verdade. Como comentou um amigo:
“A guerra dos fundamentalistas não é doutrinária, mas de poder. Eles não admitem que seus pressupostos sejam minados por quem não respeitam.”
Em um desses artigos, que citei no Post anterior, fica evidente o tom sensacionalista empacotando ataques gratuitos e sem fundamentação a pastores, para chegar-se a um ponto a mais no contador de visitas ou na lista de seguidores. E conseguem, pois tem tanta gente que gosta disso mesmo. O assunto parece ser só desmoralizar os escritos de um pastor, deixando-se de lado toda a temática em questão.
Confesso que, vez por outra, confiro o que está rolando lá, no “LADO NEGRO DA FORÇA”. Graças a Deus tem diminuído essas escapadas. Não vou citar mais o nome desses caras, nem entrar em detalhes de seus argumentos. Mas não posso deixar de escrever algo sobre o que li, em um desses Blogs. Primeiro por que foi intrigante e desafiador e vem de encontro e no sentido contrário ao que escrevi em O que supostamente escapuliu aos planos de Deus? (Parecia até uma resposta direta a meu Post. Se não foi, como disse Stott, a controvérsia é valida pelo menos para mim. Poderei testar minhas próprias convicções).
Dois pontos me chamaram a atenção: o sofisma de achar que cremos (tomo a coisa como pessoal) que tudo é acaso; e dois, a coleção de passagens bíblicas para provar que não há acaso na cosmologia judaico cristã.
O primeiro ponto é muito simples, nada do que tenho escrito, ou tenho lido, vem afirmar que “tudo” seja acaso. Normalmente o creio e o que cremos é que Deus tem seus planos, mas que também o acaso é uma força que opera no universo. Criada pelo próprio Deus, as contingências são os acontecimentos e cadeia de fatos que seguem uma lógica aleatória, não precisando ser necessariamente dirigida ou determinada por Deus, em suas causas. Tais contingências seguem dentro dos limites impostos pelo próprio Deus. Essa aleatoriedade garante, de certa forma, uma neutralidade e a mesma chance para todos. Ela é que diz que nem tudo será uma relação lógica e mecânica de causa e efeito. Ela abre as portas para o novo, para o inesperado, para o imprevisto. Todavia sabemos que Deus está acima das contingências, não policiando sobre elas, mas Ele pode interferir nessa “sorte” quando bem quiser.
Partindo desse sofisma, que cremos que tudo é acaso, o autor argumenta que não acreditamos nos planos divinos. E assim vai para o outro extremo do pressuposto que quer defender: tudo, até os mínimos detalhes do bem e do mal são planos de Deus. E aí vem o desfile infindável de citações bíblicas – claro, o sujeito é fundamentalista e tentará a todo custo fundamentar seus argumentos na Bíblia, por mais absurdos que pareçam.
E exatamente aqui a coisa torna-se intrigante, pois num primeiro momento, inundado pelos versículos das Sagradas Escrituras, sou levado a pensar: ops! Não existe acaso, mesmo: até os cabelos de minha cabeça são contados! E permita-me um exagero debochado: Deus “planejou” o número deles, faz com que as forças naturais externas e internas de meu corpo cheguem a um resultado que o número deles permaneça dentro do seu plano, e se algo acontece que comece a ameaçar esse plano, Ele logo vem intervindo, para que tudo saia como o programado. Ou seja a cada dia minha testa aumenta em área! - Não acredito nisso.
Ainda que a Bíblia declarasse categoricamente que não existe acaso, e ela não o diz, eu acreditaria nele e não na lateralidade dessa suposta declaração.
Concordo que nem tudo é acaso. Concordo que podemos atribuir ao acaso (como a Deus também) coisas esclarecidas naturalmente pelas leis de causa e efeito. Podemos também atribuir ao acaso coisas do plano sobrenatural que não discernimos bem. Mas será que o oposto não é mais comum, e atribui-se todos os fatos ao plano sobrenatural, inclusive aqueles que não passaram de meros acasos?
2 comentários:
Roger, vc começa agora a chegar aonde eu me dirijo: ao meio termo; à constatação que não sabemos tudo; que os limites da razão impõem abertura para o além do racional, sem elimina-la (a razão); para a humildade de reconhecer-nos finitos e a Deus, infinito; para a necessidade de inquirir sempre "será?" a cada passo, a cada afirmação. Por isso reservo-me o direito de perguntar - "será?" - quando você diz que "Deus não conhece o futuro", assim como o faço quando o "lado de lá" afirma que "tudo é plano de Deus". Será?
por acaso...tava dando muito trabalho pra Deus contar toda hora os meus fios de cabelos...Ele resolveu simplificar,me deixando careca.
Postar um comentário