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segunda-feira, 5 de julho de 2010

Porque acredito no destino (2)

Será que Deus se importa com meu futuro? Será que Ele pode mudar o rumo das coisas? Será que Ele quer alguma mudança? Poderia Ele mudar o que Ele mesmo já determinou?

Essas são algumas perguntas que eu poderia fazer para justificar meu interesse pelo tema. Não se trata aqui de simples especulação mental. Muito mais do que isso, o tema destino ou futuro se aplica ao nosso relacionamento com Deus. Por exemplo, quando estamos orando, é bom termos uma clareza de quem afinal é o Deus ao qual nos dirigimos. Eu sei que a Bíblia nos condena a “não sabermos o que pedir como convém”, mas por outro lado, ela nos chama para uma certa eficácia na oração.

Destaquei na primeira postagem a importância de se entender que Deus está dentro do tempo. Eu poderia até concordar com você que, por ser infinito e ultrapassar toda nossa razão, todo nosso poder de compreensão e entendimento, Deus até esteja fora do tempo; mas teríamos também que juntos dar o braço a torcer e confessar que Ele, então, fez de tudo para que entendêssemos que está bem dentro do tempo, bem próximo da gente.

O outro ponto fundamental que me convence do destino e me faz entender melhor a Deus, é que Ele, Deus, faz as suas escolhas. E isso me assusta em dois aspectos:

1) Quando Deus escolhe uma coisa, Ele tem boas razões para tal e dificilmente mudaria de escolha, a não ser que a base que o orientou na escolha seja alterada. E isso me leva ao segundo ponto;

2) As bases das escolhas divinas só podem se situar fora d’Ele.

Vamos analisar o caso mais complexo e comum que é a chamada predestinação (da qual já se falou, e já falamos mais do que o suficiente); depois peguemos algum caso mais leve.

A Bíblia afirma que Deus escolhe pessoas: Reis, apóstolos, profetas, discípulos, e etc. Em alguns momentos veremos ela se referindo aos eleitos de Deus, aqueles que hão de herdar a vida eterna.
Minha leitura da história de Saul me leva a crer que Saul tornou-se um predestinado, primeiramente para reinar:
“No dia anterior à chegada de Saul, o SENHOR havia revelado isto a Samuel: “Amanhã, por volta desta hora, enviarei a você um homem da terra de Benjamim. Unja-o como líder sobre Israel, o meu povo; ele libertará o meu povo das mãos dos filisteus. Atentei para o meu povo, pois o seu clamor chegou a mim”. 1Sam 9:15-16
Todos sabemos que Saul tornou-se rei, reinou, mas depois de um tempo ele foi predestinado para não mais reinar:
“O SENHOR o rejeitou como rei de Israel!” 1Sam 15:26
Saul havia preenchido certos pré-requisitos da exigente lista divina, os quais ele mesmo, mais tarde, veio negligenciar. Provavelmente alguns deles foram a obediência e a humildade.
Sabemos do restante da história. Davi entra em cena pois era melhor do que Saul. Se torna um predestinado e fica no trono até a morte.

De certa forma sabemos que Davi alcançou a vida eterna, por outro lado é comum a dúvida: e de Saul o que foi feito? Ele perdeu sua salvação? Não irei especular aqui sobre isso. Pode ser que Saul tenha sido salvo, pode ser que não… Não acho nada na Bíblia sobre o caso específico dele, e no fundo, pouco me importa se Saul foi salvo ou não. Acho que, me permita a ironia, como Deus, queremos que todos sejam salvos, ou não?

Mas é fato que existe uma expressão na Bíblia que fala de Deus “riscando o nome de alguém do livro da vida”, e isso me leva a crer que a questão da salvação, ainda que seja algo garantido e muito certo, permanece ainda em aberto, sujeito a alguns fatores; dentre eles o arbítrio pessoal, e também a as obras da pessoa.

Por mais sincera que uma pessoa possa ter sido em sua fé, se ela não conseguiu transformar essa fé em ações concretas de amor, eu seria fatalmente levado a crer e afirmar que paralelamente à sua fé existiram outros interesses mais fortes que concorreram e sufocaram aquela fé tão sincera, como por exemplo, riquezas, prazeres e os confortos deste mundo.

Nesse ponto alguns já estão se armando contra o que digo e classificando-o como uma suposta apologia à salvação pelas obras. Creio que as boas obras não podem salvar, mas a total ausência delas pode ser altamente comprometedor.

Se as escolhas divinas se baseiam n’Ele mesmo, sob a lógica: “Escolho aquele que escolhi”; ou “meus critérios são insondáveis”, ou “tenho misericórdia de quem eu quiser”…  Deus se tornaria mais injusto do que o mais injusto dos homens caídos; mais arbitrário do que o mais cego juiz; suas razões seriam mais aleatórias e irracionais do que as de qualquer louco. A Bíblia não nos deixa entender assim! Pelo contrário, ela afirma que a loucura de Deus é mais sábia do que a sabedoria humana.

Se as escolhas divinas se baseiam n’Ele mesmo, não podemos falar de escolhas, pois escolhas envolvem critérios. Deveríamos então falar sorteio. Poderíamos dizer que Deus faz uma espécie de sorteio. Nós somos os sorteados de Deus! O povo sorteado! Não, Deus sonda os corações e ali Ele acha os critérios que está procurando: humildade, fé, mansidão, caridade. Ah, mas tudo isso vem de Deus, ninguém pode produzir isso por si próprio! – diria alguém. E eu digo: Claro! Mas nós podemos cultivar essas coisas, podemos multiplicá-las, ou podemos abafá-las e por fim, tirá-las de nossa vida.

Para fechar o exemplo da salvação, penso que Deus usa claramente do critério da humildade: Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. Qualquer pessoa, cristã ou não, que num momento de crise (que seja), se humilhar e clamar a Deus por socorro, será socorrida, será salva. Por outro lado, qualquer que fincar pé no seu orgulho, e numa evidente crise, arrogar que não precise de ajuda… estará fadada à perdição. Ou melhor, se a pessoal, cristã ou não, se orgulha e pisa sobre outros para se defender de qualquer crise e nunca ter que pedir socorro, ainda que ela diga para Jesus, “Senhor, Senhor”, a queda dela estará bem próxima, e provavelmente não haverá tempo para clamar por socorro.

Partindo para outros exemplos menos complexos que a salvação, pensemos no caso de resolver um problema de saúde, achar um emprego, achar um cônjuge ou escolher uma profissão. Existem nessas três áreas casos em que não há drama algum. Tudo segue o curso normal da vida e tudo se resolve de forma rápida e satisfatória - talvez esses casos sejam exceções… Pois, normalmente as pessoas ficam presas pelo menos numa dessas áreas, se não em todas.

Nessa hora surge a crise e vêm aquelas perguntas: Será que Deus se importa com meu futuro? Será que Ele pode mudar o rumo das coisas? Será que Ele quer alguma mudança?

Normalmente a pessoa pensa, o melhor é não se preocupar com o futuro e viver o presente. Mas são questões assim que ameaçam a existência; elas são questões do presente! Talvez um dia ou dois a pessoa pode achar algum outro assunto para se distrair e pensar antes de dormir, mas não a semana inteira ou mês inteiro.

Outro pensamento conflitante é: Deus pode todas as coisas! Então sou fatalmente levado a crer que ele irá de uma forma ou de outra reverter a situação a meu favor, de acordo com meus desejos.

Será que essa atitude não nos leva muitas vezes a fazer corpo mole? Como sair dessa sinuca de bico? Isso gostaria de escrever mais a frente e assim finalizar a série.

(Continua)
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